Resenhas

Childhood – Universal High

Segundo disco de projeto inglês traz nostalgia dos anos 1970 e inventidade

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Ano: 2017
Selo: Marathon Artists
# Faixas: 10
Estilos: Dream Pop, Indie R&B, Electro Pop
Duração: 37:00
Nota: 3.5
Produção: Ben H Allen III e Childhood

Muitas contribuições para a música contemporânea podem ser traçadas da década de 1970, mas certamente o groove é uma das maiores. Mais do que uma sequência rítmica, o termo é designado para um padrão que é emocionalmente comunicativo, ou seja, não se expressa apenas no campo musical. Assim, um groove bem feito não é apenas aquele que se encaixa no arranjo, mas que acrescenta um significado especial e único a cada parte da estrutura. Dentro dessa definição, quem parece compreender cada vez mais o significado de uma boa aplicação é Childhood, um projeto que reúne referências sólidas e claras do Funk 70, readaptando-o com intervenções modernas que flertam com o Indie e um pouco de Dream Pop. Dessa forma, o que poderia ser interpretado como uma sonoridade excessivamente nostálgica ganha um novo significado no segundo disco da banda.

Universal HIgh entra dentro da proposta de muitas outras bandas, porém com um diferencial: a maturidade com a qual as referências dos integrantes são trabalhadas. Aqui, a década de 70 não vem apenas como um verniz para dar um brilho final à sonoridade, ela é a base a partir de onde tudo cresce. A essência do disco são os Grooves e todas outras definições estão em função disso. Se uma música é um pouco mais parecida com um Indie, R&B ou, até mesmo, Chillwave, na verdade são ramificações que o grupo puxou daquela década. Ben Romans-Hopcraft, líder da banda, afirmou em uma entrevista que este trabalho é justamente uma forma de mudar musicalmente o ponto de vista do grupo, ao mesmo tempo que revisitar aquelas suas influências fundamentais.

Dessa forma, o disco revela uma maturidade saudável do grupo com hits Pop muito bem arranjados e compostos, bem como uma produção que revela o que há de melhor desta década dourada. A.M.D, por exemplo, se aproxima do Dream Pop pelas texturas, mas mostra a precisão rítmica de bateria/baixo a favor de uma dançante composição. Cameo se inclina para um R&B meio Indie, ressaltando o peso do baixo e alguma psicodelia com timbres de sintetizador bastante hipnóticos. Melody Says é uma mistura de Neon Indian com arranjos de Ottawan, sensação Disco da década de 70. Don’t Have My Back traz um lado Indie forte, mas as melodias trazem um aspecto ensolarado, ousando referenciar um pouco de Beach Boys pós-Pet Sounds. Por fim, Monitor remonta o New Wave com um cadência bastante Funk, abusando de slaps de baixo e sintetizadores soturnos.

Pode parecer um disco muito comum de Indie nostálgico, famoso em bandas como Toro y Moi, Neon Indian ou Sinkane. Mas há algo a mais do que uma merda homenagem, a partir do momento que a banda procura de reinventar e criar novos caminhos. Foi uma boa forma de passar pelo teste do segundo disco, respeitando o passado e abrindo novos caminhos para um futuro promissor, sempre levando o Groove em primeiro lugar.

(Universal High em uma faixa: Melody Says)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique