Resenhas

Colin Stetson – SORROW

Colaborador de Arcade Fire relê peça de música erudita em álbum intenso

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Ano: 2016
Selo: 52 Hz
# Faixas: 3
Estilos: Erudita, Experimental, Instrumental
Duração: 52:23
Nota: 3.5
Produção: Colin Stetson

Você deve saber que Colin Stetson é um dos músicos colaboradores de Arcade Fire no último disco lançado pelos canadenses, Reflektor, né? Não sabia? E que Colin havia participado dos discos solo de Sarah Neufeld, violinista do grupo? Também não? Tudo bem, você então sabia que ele se juntou a projetos paralelos de Justin Vernon (Bon Iver em pesso) há alguns anos. Também não? Bem, o que você já imagina é que se trata de um desses músicos arroz de festa, que participam aqui e ali de álbuns regulares e projetos alternativos de gente que você gosta e/ou respeita e que tudo indica ser uma escolha confiável na hora de conhecer novos sons. Certo? Certo.

O que você nem imagina é que Stetson, além de um background bastante extenso na área do Jazz, também circula por um meio pouquíssimo lembrado em nossos dias, o da Música Erudita. É o correspondente teórico/acadêmico ao que o senso comum entende por “música Clássica”, aquelas longas peças compostas há séculos e que, via de regra, não despertam muito interesse em quem tem os ouvidos formatados pela música Pop. Só que – surpresa – este tipo de música nunca deixou de ser feito e pensado, mudando sensivelmente à medida que o próprio mundo e a sociedade avançam. Como Colin é um cara que tem familiaridade com esse negócio, resolveu colocar na praça um álbum bastante peculiar, especialmente para quem está acostumado a ver sua faceta mais Pop em ação: Sorrow é um disco no qual o músico revisita e reinterpreta uma peça conhecida como Symphony No. 3, Op. 36 ou Symphony of Sorrowful Songs, composta pelo polonês Henryk Mikolaj Górecki, em 1976, portanto, bem perto no tempo.

Por que diabos isto aqui seria interessante para você, ouvinte de música Pop? Primeiro porque Monkeybuzz tem um compromisso sagrado de apresentar novidades, procurando cair firme no que é “inédito” para você, ou seja, coisas que você jamais imaginou que existissem. Segundo porque a Symphony No.3, Op. 36 é um belo exemplo de como esta novidade pode soar avassaladoramente inédita para quem é absolutamente leigo no trato com este tipo de peça musical. Ela é, na origem, uma reinterpretação de melodias religiosas e econômicas da Idade Média, algo que vem de um outro mundo, muito distante de nós. Górecki, compondo numa Polônia setentista e com liberdades restrita, embarcou nesta viagem no tempo e chegou a uma peça lenta, tensa, de pouco mais de 50 minutos e três movimentos, na qual o ouvinte é obrigado a ouvir sons que clamam, pedem e traduzem tristeza e, como o nome já diz, arrependimento.

Corta pra 2016. Colin Stetson resolve visitar este cenário e, para levar adiante sua ideia, não chama uma orquestra, mas uma banda com instrumentos elétricos e metais, além de sua irmã, Megan, que é cantora lírica, para prover vocais de outra dimensão para a empreitada. O resultado é intenso, mesmo que você não esteja familiarizado. Pra te dar uma ideia, o que Colin e companhia alcançam aqui é, em alguns momentos, próximo do que bandas de Post Rock obtém em algumas composições, não em termos de melodia, mas de ítens como progressão e instrumental, que se traduz naquela sensação de pequeneza diante de algo que parece tomar todo o espectro sonoro no qual estamos inseridos naquele momento. Mais que tudo: o que sai das caixas de som é uma sonoridade triste, em tons escuros, sem espaço para felicidade ou qualquer tipo de regozijo por algo. Mesmo assim, para quem gosta de refletir sobre a existência e despedir-se do mundo real enquanto ouve música, isto aqui é altamente recomendado.

Colin Stetson prova que tem versatilidade, originalidade e coragem para embarcar numa viagem sonora desta natureza. Vale a pena conhecer e mergulhar nestas novas águas. Depois nos diga o que achou.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.