Resenhas

Connan Mockasin – Jassbusters

Disco mais acessível e delicioso de músico neozelandês põe à prova o seu universo particular

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Ano: 2018
Selo: Mexican Summer
# Faixas: 8
Estilos: Rock Psicodélico, Lo-Fi
Duração: 34:00
Nota: 4.0
Produção: Connan Mockasin

Connan Mockasin é uma figura inusitada e distinta dentro da música contemporânea. Excêntrico e idiossincrático em relação à sua arte, o músico neozelandês tem uma escola própria dentro da chamada “cena Psicodélica”, um nicho de figuras carismáticas e às vezes bizarras que passam, desde Ariel Pink ao histórico Circulatory System. Suas poucas e excelentes obras passam por audições crescentes que revelam o seu valor a cada nova investida, como se os seus “erros” e escolhas particulares só pudessem compreendidas quando adentradas dentro de um universo particular.

Jassbusters, seu terceiro disco, é mais um desses exemplos verossímeis dentro de sua discografia, um que ganha poder à medida em que novas dosagens de sua rotação acontecem – dessa vez, com um caminho bem menos sinuoso que outrora. Sua nova obra é de longe a mais facilmente compreendida e apreciada, talvez pelo entendimento mútuo entre um ouvinte de longa data de Connan, mas que se adequa também a novos ouvidos. Romântico e cheio de baladas feitas à semelhança do músico, essa viagem certeira poderia ser feita também no tempo. Vestígios de uma atmosfera Country melancólica de Fleetwood Mac tornam-se ainda mais autênticos devido ao fator Connan e à sua performance vocal única.

Errônea para os padrões da música Pop, aqui ela é a maior potência para o seu primeiro disco verdadeiramente Pop no sentido de acessibilidade e flerte com movimentos mais dançantes. Last Night, por exemplo, constrói-se ao redor de um único verso que não mantém uma entonação constante, mas sim um mantra musical contínuo e crescente – ao seu final, o ouvinte já está dançando junto à caixa de som, de forma torta e à sua maneira. Escalas musicais não ocidentais convidam-se a sensualidade em You Can Do Anything e na linda e contemplativa Sexy Man, causando sensações semelhantes à forma como os pés se movem. Talvez esse gosto pela sensualidade que quase vem do R&B seja resultado das parceiras feitas com Dev Hynes (Blood Orange) em Myths 001.

Dentro do universo de Connan, Jassbusters também justifica-se como trilha sonora para uma obra audiovisual dividida em cinco partes feita em 2016 e que pretende ser exibida ao longo da atual turnê de seu disco. Realizada com um amigo de infância e voltada a uma história em quadrinhos que ele construiu quando era criança, Bostyn ’n Dobsyn conta a história de um professor de música (Bostyn) e seu estudante (Dobsyn) e tem uma espécie de trailer no único clipe lançado até então, Con Con Was Impatient. Aliás, vale ressaltar que a música é uma de suas composições mais sexies e vicia cada vez que seu riff de guitarra repete-se. Principal instrumento de Mockasin, a guitarra no disco é de longe um dos elementos mais marcantes de todo o disco.

Charlotte’s Thong entra nesse mesmo espírito de riffs deliciosos em um mantra de quase nove minutos que a tornam a melhor faixa de toda a obra. Com ainda uma participação super especial de James Blake e sua costumeira melancolia na ótima Momo’s, Jassbusters parece capturar sentimentos verdadeiros dentro de um relacionamento como a paixão, a resignação, a normatização até chegar à tristeza. No entanto, a resposta parece ser sempre um certo romantismo torto, desconstruído e muito atraente do músico neozelandês que faz do disco a sua obra mais universal. E mesmo que seja relativa a um cosmo audiovisual que ainda desconhecemos, seus personagens nos títulos das faixas parecem ganhar histórias plausíveis devido a psicodelia única e particular de Mockasin. Álbum certeiro para se manter em repetição.

(Jassbusters em uma música: Charlotte’s Thong)

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.