Resenhas

Cora – Não Vai Ter Cora

EP coleciona êxitos acima da média para um disco de estreia

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Ano: 2017
Selo: Honey Bomb Records (Caxias do Sul-RS), PWR Records (Recife) e Coletivo Atlas (Curitiba)
# Faixas: 5
Estilos: Dream Pop
Duração: 19'33
Nota: 3.5
Produção: Cora

O título do primeiro EP do duo curitibano Cora faz uma clara alusão ao movimento antiesportivo que aconteceu na época do campeonato mundial sediado no Brasil. Não Vai Ter Cora, apesar de tentar expressar os impasses que atrasaram em quatro anos o lançamento desse primeiro registro – insegurança, medo, mudanças de sentimento e comportamento dos membros -, parece ter conseguido virar o jogo e colocar todo o seu potencial em campo.

Contudo, por mais que as integrantes desse time tivessem que enfrentar problemas pessoais e técnicos, o compacto de pouco menos de vinte minutos reflete com precisão o gosto doce da vitória. A vibe da maior parte das músicas é pautada por influências claras ao Dream Pop de bandas como Warpaint – que foi peça-chave na decisão de seguir a carreira artística da dupla – também inserindo elementos do Rock Psicodélico, como a guitarra marcante e distorcida que prepara o terreno para a chegada das vozes etéreas que se alternam entre ruídos.

Já nas letras, Kaila Pelisser e Katherine Finn Zander exploram assuntos de fácil identificação muito presente na geração atual que procura padrões de comportamento naquilo que consomem. Das séries até produtos da indústria Pop, a juventude dos dias de hoje busca dividir o mesmo sentimento que o artista tem em seu processo criativo. Dessa forma, as mensagens das canções do duo paranaense tocam em temas de simples assimilação.

Essa ideia se dá pelo conjunto da obra. Por exemplo, é possível ver na capa o recorte de um abdômen masculino vestindo jeans comuns. A imagem se conecta gradativamente com a narrativa que as letras parecem proporcionar. Mystic Mirror funciona como um prólogo, anunciando um relacionamento abusivo e controlador sobre o visual da parceira (“My own look is the one I chose/And noone else is allowed and”). Já Center Of The Self tenta elucidar um término e pontuar seu motivo: uma pessoa egocêntrica que deixou marcas profundas neste relacionamento (“Do you care? (do you care for what’s going on with me right now?)”) enquanto Meerkat expõe uma possível recaída de alguém que foi claramente rejeitada. Cactus e Calandria, no entanto, servem como um wake up call de alguém que percebeu que existia toda uma vida antes do tal envolvimento afetivo, mas ainda assim, não consegue encarar a dura realidade estando sóbria.

Com isso, Não Vai Ter Cora coleciona êxitos acima da média para um disco de estreia, primeiro por sua produção eficaz – que foi feita inteiramente por elas – e segundo pela profundidade na abordagem. No fim das contas, os quatro anos em escanteio parecem ter sido essencial para a dupla marcar um golaço.

(Não Vai Ter Cora em uma música: Calandria)

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BOM PARA QUEM OUVE: Warpaint, The Raveonettes
ARTISTA: Cora