Resenhas

Courtney Barnett – Tell Me How You Really Feel

Tom agressivo do Grunge marca presença no segundo álbum da artista

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Ano: 2018
Selo: Marathon
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Grunge
Duração: 37
Nota: 4.0
Produção: Courtney Barnett, Burke Reid, Dan Luscombe

A australiana Courtney Barnett está em nosso radar desde que lançou o EP A Sea of Split Peas em 2013. Ao lado dos melhores compositores de sua geração, a artista exibe uma linguagem própria, capaz de articular com clareza um olhar poético sobre o cotidiano. São vários os trejeitos que tornam a música de Barnett algo seu: trocadilhos, aliterações e humor infame são, entre outras, características que refletem o traçado de sua assinatura.

No entanto, a personagem jovial tão presente em todos os álbuns até agora abandonou suas feições mais ensolaradas para encarar o lado obscuro da força: Tell Me How You Really Feel, um álbum distorcido de tanto ressentimento, é um cuspe amargurado na assepsia clínica da vida. Não por acaso, guitarras do Grunge tem um lugar privilegiado por aqui. Nada que não tenhamos ouvido antes no trabalho da artista, mas o tom agressivo e a assertividade dos versos no álbum marcam uma presença mais pungente em relação aos seus antecessores.

A primeira faixa Hopefulessness traça, já de partida, o tom: “No one’s born to hate / We learn it somewhere along the way / Take your broken heart / Turn it into art”. É isso, em seu segundo álbum completo, Barnett não aprende apenas a odiar, mas aprende também como trabalhar esse desgosto em forma de música. City Looks Pretty evoca o azedume de The Breeders (as irmãs Deal, aliás, estão no backing vocal de algumas faixas, retribuindo o favor de All Nerve). Charity, por sua vez, invoca do subconsciente uma melodia Black Sabbathiana. Há uma ansiedade social, uma tomada de posição contra a misoginia, mas há principalmente, um desencontro emocional que ganha contornos carregados.

Talvez o maior trunfo deste passo, vindo neste momento da trajetória da artista, seja justamente a mudança de tom. É um jeito inteligente de usar a sua fórmula sem patinar em uma estética pré-concebida: em Sometimes I Sit… tivemos um olhar entediado sobre a vida; depois, o jogo de vai-e-vem que celebra o diálogo e a amizade em Lotta Sea Lice; e, enfim, um álbum saturado de desentendimentos amorosos. Todas estas são etapas distintas que, unidas, formatam o quebra-cabeça de possibilidades que Barnett oferece.

(Tell Me How You Really Feel em uma música: City Looks Pretty)

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BOM PARA QUEM OUVE: Hop Along, The Breeders, Angel Olsen
MARCADORES: Grunge, Indie

Autor:

é músico e escreve sobre arte