Resenhas

Courtney Barnett – Things Take Time, Take Time

Craque em cultivar grande cumplicidade com seu público, cantora australiana retorna em terceiro disco com equilíbrio certeiro entre bom humor, sensibilidade e honestidade

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Ano: 2021
Selo: Marathon Artists
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 34'
Produção: Courtney Barnett e Stella Mozgawa

Ao chegar ao seu terceiro álbum (solo) completo, Courtney Barnett satisfaz aquilo que os fãs de seus trabalhos anteriores mais querem em sua música: sua companhia em pequenas histórias contadas em um equilíbrio certeiro de bom humor, sensibilidade e honestidade. Craque em cultivar grande cumplicidade com seu público, a cantora e compositora australiana não tem ouvintes, mas amigos.

Esse aspecto de sua criação é palpável em cada instante de Things Take Time, Take Time desde a primeira audição, do jeitão confessional de suas letras à interpretação franca com que Courtney nos entrega suas composições. Mais curioso ainda é descobrir que ela mesma quis dar esse aspecto de conversa íntima para o disco, com intenção de que as músicas fossem “um braço que conforta a uma amiga”, em uma tradução mais literal, ou “um ombro amigo” no melhor de nosso idioma. E conseguiu.

Não é surpresa, por outro lado, a informação de que essas músicas (e esse objetivo) nasceram durante a pandemia do covid-19, uma época que entrou para a história como a necessidade do tal braço, ou ombro, que o disco providencia, já que o “isolamento” foi palavra-chave desse período. Isso também definiu a forma com que ele foi produzido em uma versão bastante enxuta e – adivinhe – entre amigas.

Stella Mozgawa (Warpaint) divide a produção da obra ao lado de Courtney, além de tocar quase todos os instrumentos, com exceção da guitarra, que ganhou reforço da ótima Cate Le Bon. É um modo de trabalho semelhante ao que a artista produziu seus dois álbuns anteriores, mas agora a sonoridade acompanha o momento em que o disco foi feito, seja no timbre seco do drum machine ou mesmo no charme de um número reduzido de instrumentos, que nem sempre ocupam todo o espaço sonoro nas músicas.

Essa estética faz percebermos o vocal de Courtney, sempre em um primeiro plano pertinho do ouvido, ganhar pitadas de deboche em “If I Don’t Hear From You Tonight”, se permitir abraçar a fofura em “Here’s The Thing” e incorporar aquela melancolia meio ansiosa, meio apática de nosso tempo em “Write a List of Things to Look Forward to”. Enfim, é a amiga que o fã de Indie Rock sabia que queria e pode sentar agora para bater mais um longo papo.

(Things Take Time, Take Time em uma faixa: “Before You Gotta Go”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.