Resenhas

Cut Copy – Haiku From Zero

Tentativa de combinar melodias dançantes e letras melancólicas resulta em um álbum competente, mas desinteressante

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Ano: 2017
Selo: Astralwerks
# Faixas: 9
Estilos: Electro Pop, Indie Pop, Dance Music
Duração: 42:00
Nota: 3.0
Produção: Dan Whitford

Receber a inesperada notícia de que Cut Copy estaria de volta com um novo disco quatro anos após Free Your Mind foi como encontrar dinheiro no bolso de uma calça velha. Não muda o rumo das coisas, mas não deixa de ser uma surpresa positiva vinda de um lugar que você nem lembrava mais que existia.

A ideia em Haiku From Zero, quinto álbum da banda australiana, parece ter sido envelopar a melancolia em um ensopado de referências dançantes. No entanto, a impressão é que o estudioso Dan Whitford se afoga em meio a emulações de referências Electro Pop, mostrando apuro técnico ao construir músicas, mas deixando de apresentar características que tornem o trabalho mais especial, único e memorável.

Ironicamente, esta sensação de álbum genérico fica mais evidente ao nos depararmos com os acertos do grupo nas faixas Standing In The Middle Of The Field e Tied To The Weather, que abrem e fecham o disco respectivamente. A primeira soa como se Hot Chip houvesse reinterpretado o hit Africa, de Toto, numa versão igualmente épica, mas menos explosiva. É a faixa que melhor resgata a fase Disco que colocou Cut Copy ao lado de contemporâneos como LCD Soundsytem, The Rapture e a própria banda de Alexis Taylor, com suas batidas constantes e construções crescentes e lentas. A última já é interessante pois caminha para um outro lado, expondo uma influência de Caribou – explicitamente revelada por Whitford em entrevistas.

Cut Copy sempre careceu de elementos que a destacassem entre outras bandas que habitaram o mesmo espectro sonoro que ela durante seus treze anos de existência. Seja na já citada fase Disco ou em seus momentos mais Pop em que se aproximava de outros nomes como Friendly Fires. Nunca houve um vocal especialmente bonito ou esquisito, um letrista inspirado – pelo contrário, os últimos trabalhos da banda foram criticados pela superficialidade de suas letras – ou qualquer elemento que criasse um laço de familiaridade que nos fizesse preferir um nome a outro dentro de determinado gênero.

O disco inteiro é composto por faixas de estrutura previsível, que repetem sempre duas ou três estrofes pouco inspiradas ao longo de musicas inteiras. Por vezes caminhando na direção do Funk e em outros momentos flertando mais com o Eletrônico ou com a Psicodelia, mas dificilmente trazendo algum elemento especialmente notável. As faixas parecem todas versões de uma mesma ideia simples de tentar dançar em um momento de tristeza. É como se o fato de terem falhado nesta tentativa de contrapor os sentimentos expressados nas letras e nas melodias, tenha exposto ainda mais a tristeza do momento da composição, comprovando que nem todo mundo consegue soar sincero nesta façanha que nomes como Talking Heads consagraram ao longo das últimas décadas.

Mas, mesmo assim, é injusto não destacar a capacidade minuciosa da banda de replicar estilos de forma divertida e dançante, como no single Airborne, no qual lembramos da guitarra de Nile Rodgers. O disco é competente e Pop o suficiente pra merecer seu espaço preenchendo lacunas nas playlists dançantes de 2017. Apenas não serão faixas que seus amigos pararão pra perguntar de quem são.

(Haiku From Zero em uma música: Airborne)

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BOM PARA QUEM OUVE: Friendly Fires, Arcade Fire, Hot Chip
ARTISTA: Cut Copy

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.