Resenhas

Damaged Bug – Bunker Funk

Líder de Thee Oh Sees troca guitarra por sintetizador em projeto paralelo

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Ano: 2017
Selo: Castle Face
# Faixas: 14
Estilos: Rock Alternativo, Lo-Fi, Eletrônica
Duração: 39:55
Nota: 3.5
Produção: John Dwyer

Rapaz, olha John Dwyer aí de novo. Não satisfeito em gravar vários discos à frente de sua banda, Thee Oh Sees, ele tem alguns projetos paralelos, sendo este Damaged Bug apenas um deles. A ideia aqui é dar vazão à paixão por filmes de ficção científica de baixo orçamento, visões amalucadas sobre a vida moderna e distopias estapafúrdias, tudo usando uma interseção entre o som garageiro que propõe em sua banda principal e uma moldura de Eletrônica paraguaia de fundo de quintal. Usando e abusando esta estética caótica, Bunker Funk já é o terceiro álbum que John lança usando este nome e, justiça seja feita, deixa a gente confusa sobre a sua real necessidade de existência.

Falando assim, pode parecer descaso com o sujeito, mas não é. A pergunta é se há necessidade de colocar essa coleção de dejetos pós-modernos sob um projeto paralelo, em vez de aproveitar-se disso como um disco de sua banda principal ou mesmo com sua assinatura. Dwyer perde uma chance de ouro mas também não é nada grave. O que temos aqui é uma geleca sonora, totalmente feita em estúdio caseiro, mas que não tem qualquer traço Lo-Fi tradicional. A massaroca é densa, viscosa, como se fosse a Bolha Assassina ou algo assim. Esta ambiência de filme de terrir é sob medida para as sonoridades que temos aqui. O próprio release da gravadora Castle Face usa termos como “glóbulo alien orbitando um planeta errante” para definir a banda, o disco, o ouvinte, enfim, todos nós. É um exercício de análise sob a ótica da validade – ou não – do colapso das teorias da comunicação. Mais ou menos como se a Aldeia Global coubesse na mente de um só ser, no caso, um maluco, caso de Dwyer.

O que temos então aqui? Ecos de trilhas sonoras obscuras, teclados que sobem e descem em direções distintas, traços de DNA de estilos como Funk e Rock perdidos pelo chão e um interessante trabalho de bateria, algo que soa inesperado em meio a tanto caos, cortesia de Ryan Moutinho, que já tocou com Thee Oh Sees. Além disso, há um certo clima The Doors no ar, pelo menos em algum ponto dos teclados. Parece que um clone de Ray Manzarek, deformado por alguma peste alienígena, está por trás das notas e progressões nos teclados, dando uma impressão sombria e interessante, tudo ao mesmo tempo agora, uma coisa de cada vez.

No fim das contas, é apenas um maluco, no caso, John Dwyer, no fundo de seu quarto/garagem de adolescente tardio, cuspindo e regurgitando essas bugigangas causas por exposição prolongada a produtos culturais de valor/procedência duvidosa. Mas há boa música por aqui. A quarta faixa, Slay The Priest, tem predicados de sobra para agradar a fãs de bandas como Primus ou mesmo os trabalhos mais arejados de Mike Patton, unindo afiação sonora e estranheza via satélite. Outras canções saltam aos olhos/ouvidos: Bog Dash tem punch e substitui guitarras por sintetizadores obscuros, criando efeitos além da conta, chegando a tocar terrenos da Psicodelia sessentista obscura em alguns momentos. Unmanned Scanner e Ugly Gamma poderiam ser canções de Thee Oh Sees se tivessem guitarras no lugar dos teclados de fundo de quintal, algo que parece ser a proposta de todo o disco, algo bem saudável, diga-se de passagem.

Este álbum é indicado para pessoas não-convencionais, prontas para uma aventura sonora por porões e baús empoeirados cheios de tranqueiras sonoras de todos os tipos, uma famílias de frankensteins, gentis e com senso de empreendedorismo, prontos para se lançarem como artistas no mundo da música. Em vez dessas figuras de linguagem, intencionalmente colocadas para dar ao texto uma semelhança ao som, há apenas um sujeito por trás disso tudo: John Dwyer. Prestigiem.

(Bunker Funk em uma música: Slay The Priest)

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BOM PARA QUEM OUVE: Mike Patton, Devo, Kraftwerk
ARTISTA: Damaged Bug

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.