Resenhas

Damien Rice – My Favourite Faded Fantasy

Oito anos depois, músico prefere investir em seu lado compositor para entregar obra contemplativa

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Ano: 2014
Selo: Atlantic Records/Warner Music
# Faixas: 8
Estilos: Folk Pop, Folk Rock
Duração: 50:28
Nota: 3.5
Produção: Rick Rubin

Oito anos depois, Damien Rice volta à ativa para mostrar não quem ele era, mas quem se tornou. E se essa constatação trata do tema mais natural possível, se não óbvio, que é o quanto a obra reflete a identidade de um artista, existe um lado do público ter que adequar suas próprias expectativas ao que o irlandês traz em My Favourite Faded Fantasy.

O primeiro impacto é notar que o lado de Damien que fala mais alto aqui é o de compositor. O capricho colocado nos temas e na maneira de mostrá-los surpreende, principalmente quando nota-se o tamanho das faixas (a duração média beira os seis minutos). A sonoridade, entretanto, se apresenta redonda e aconchegante, bem mais do que a média de seus discos anteriores, o que torna este um álbum altamente contemplativo – e se alguém vier falar em “música pra dormir”, sim, isso poderia ser uma boa ideia, no melhor dos sentidos.

Mas My Favourite Faded Fantasy é um trabalho que, por mais contemplativo que seja, requer uma postura mais ativa do ouvinte para descobrir algumas de suas preciosidades – seja uma linha melódica que se desenvolve aos poucos até uma explosão (como em The Box) ou encontrar traços de suas composições anteriores (Cold Water, do primeiro álbum, retorna em Long Long Way, com participação de Markéta Irglová para encerrar o disco com um grande presente para o ouvinte). Se você ouvi-lo sem prestar muita atenção, pode não notar direito quando termina uma canção e começa a outra.

E é aí que uma das grandes surpresas do álbum acontece: The Greatest Bastard, faixa lançada antes do disco sair, mostra sua força aqui como uma música para se matar saudades do que Rice fez em O (2002) e 9 (2006), com um trabalho mais sincero na entrega dos versos. E é nela também que notamos que seu lado de intérprete ficou em segundo, ou mesmo terceiro, plano neste trabalho. Em meio a uma infinidade de timbres (cortesia do produtor Rick Rubin) e composições magistrais, sobrou espaço para o lado mais (ou ainda mais) humano do artista vir à tona.

Não se deixe enganar pelo single I Don’t Wanna Change You: My Favourite Faded Fantasy é um álbum bem diferente do que é produzido em massa dentro de um nicho romântico-melancólico da Indústria Fonográfica. É pela força de suas composições que sabemos que Damien Rice ainda está em boa forma como músico. E se o convite de passar 50 minutos nas oito faixas do álbum parece um grande investimento, a melhor maneira de aceitá-lo é com os ouvidos bem abertos para tudo o que vem com eles.

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BOM PARA QUEM OUVE: Ben Howard, Glen Hansard, Sufjan Stevens
ARTISTA: Damien Rice
MARCADORES: Folk Pop, Folk Rock

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.