Resenhas

Dan Croll – Emerging Adulthood

Cantor e compositor inglês entrega álbum Pop sem convicção

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Ano: 2017
Selo: Caroline
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo
Duração: 37:10
Nota: 3.0
Produção: Ben Allen

Dan Croll é inglês de Liverpool e este simpático Emerging Adulthood é o seu segundo disco. É engraçado como um álbum às vezes tem tudo para se tornar uma pequena e preciosa jóia mas acaba morrendo na praia, ficando no meio do caminho. Por que esse tipo de coisa acontece? O sujeito é bom cantor, compõe o que toca, domina a maioria dos instrumentos ao longo das dez canções e recrutou um produtor com fluência nos dois lados da moeda Pop atual. Ben Allen já pilotou estúdios para Cee-Lo Green e Animal Collective, com bons resultados em ambos os casos. Dan, sabedor disso, chamou o sujeito porque queria fazer um disco Pop mais comercialzinho, porém queria atingir este objetivo com um ponto de vista próprio, algo como um certo verniz virtuoso/intelectual que o credenciasse e ao disco. O resultado é um típico álbum nota 6,5, daqueles que passam de ano com nota arrendada e o professor se pergunta o motivo daquele aluno não ser um CDF.

Talvez o problema por aqui seja a não compreensão de valor no Pop mais deslavado, independente da época que se escolha. Há verdadeiras obras-primas melódicas gravadas ao longo do tempo que são sensacionais por serem exatamente Pop, calcadas nos refrãos e arranjos solares. O que Dan Croll deve ter pedido ao produtor foi: quero fazer um disco popíssimo mas não como o que se faz hoje em dia, quero dar um ar de malandragem retrô e esperteza. Ok, nada errado, mas o resultado ficou aquém, talvez pela inexistência de melodias realmente memoráveis, algo que faz falta em qualquer estilo, que dirá no Pop. Os arranjos também são banais, com um pé nas canções oitentistas que frequentavam as paradas de sucesso, outro no Pop personalíssimo de gente mais talentosa como um Sondre Lerche da vida. E mais: um viés conceitual permeia as faixas, no caso, relatos de Dan sobre adolescência e vida adulta, algo que, convenhamos, não é exatamente original, certo?

Emerging Adulthood é uma sucessão de canções mais ou menos legais, com arranjos banais e uma certeza de que poderiam ser bastante interessantes se houvesse um abraço despudorado e sem freios ao Pop. Dan optou por executar todos os instrumentos, basicamente baixo, bateria, guitarra e teclado, conferindo um ar retrô simpático mas que não escapa da monotonia se o artista não domina totalmente o ofício. É o caso de boas tentativas como Bad Boy, Educate e Sometimes When I’m Lonely, que escapam um pouco do óbvio mas não tanto, porém chegam a fazer algum agrado auricular no articulista. Na verdade, as canções como um todo atingem este ponto, de uma certa cosquinha no ouvido do crítico, mas não suficiente para fazê-lo sorrir ou ter certeza de que já ouviu isso antes, requisito necessário para este estilo tradicional que é o Pop mais clássico.

Há uma exceção gloriosa no álbum, justamente a última faixa, Tokyo. Com uma levava próxima do popão tecladeiro e aveludado das paradas de sucesso oitentistas, Dan vai num clima meio Tears For Fears e relata nunca ter ido à capital japonesa, com uma discreta apoteose de refrão com vocais de apoio misturados e tudo muito bem amarrado e produzido. Podemos dizer que é uma dessas canções que quase valem um álbum inteiro, verdadeira joia melódica dessas que fariam o professor hipotético dos parágrafos acima aprovar o aluno por conta de seu potencial.

Dan Croll é boa pessoa, dá pra ver. Garoto novo, cheio de boas intenções e com talento suficiente pra gente apostar nele. Volte com um novo lote de canções, resolva-se melhor com seu produtor e caia dentro. Você consegue, Dan.

(Emerging Adulthood em uma música: Tokyo)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.