Resenhas

Danny Brown – uknowhatimsayin¿

Aqui, o artista demonstra como “envelhecer sem ficar velho” usando o passar do tempo a favor de sua sabedoria

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Ano: 2019
Selo: Warp
# Faixas: 11
Estilos: Hip Hop Alternativo, Rap
Duração: 33'
Nota: 4
Produção: Q-Tip, Cartie Curt, Flying Lotus, JPEGMAFIA, Paul White, Playa Haze, Standing on the Corner, Thundercat

Em diversos momentos, o jogo do Rap á como um esporte frenético em que, a cada dia que passa, novos jovens talentos despontam. Considerando que Danny Brown foi estourar só aos 30 anos de idade – há quase uma década (ele tem, hoje, 39) –, o rapper está dando uma aula com sua carreira. O tema é: “como envelhecer sem ficar velho”. Não à toa, já na primeira faixa, o recado aparece. Em “Never look back, I’ll never change up” funciona quase como um grito de guerra. Na letra, o artista explica que cortar o cabelo e consertar seus dentes – características pelas quais foi reconhecido ao longo da última década – não representam somente uma mudança de aparência, mas uma demonstração de que ele está renascendo. Importante salientar que esse renascimento não cai em armadilhas piegas. Nesse sentido, uknowhatimsayin¿ está anos-luz de distância do que fez Chance The Rapper em The Big Day (2019). Enquanto o recém-casado derrete-se em declarações de amor exacerbadas que beiram o cafona, Brown mantém a sua essência: debocha de si mesmo enquanto rima com excelência.

A capa do disco, aliás, dá dicas do que está por aparecer nas músicas. Isso porque ela foi inspirada no LP de 1974 do comediante Richard Pryor, That Nigger’s Crazy, de quem Brown é fã. Em 2014, ele disse à NPR que o admirava por “sua inclinação a fazer coisas que não deveriam ser engraçadas se tornarem engraçadas”. Assim, o humor refinado do rapper não se restringe apenas ao hilariante. Ele se desenvolve lentamente até chegar em suas punchlines – técnica comum em espetáculos de Stand Up Comedy. Nunca se sabe o que virá na próxima linha e é essa imprevisibilidade que torna seu Rap fascinante e, claro, divertido. Se por um lado o Brown tem, sim, um lado “punchline-rapper”, por outro, sua consistência temática e sua habilidade em contar breves histórias – como são as piadas – tornam suas narrativas ainda mais envolventes. Ele está além de um malabarismo repetitivo que poderia cansar o ouvinte. É por isso que rimadores como Run The Jewels fazem participações acertadas no LP que ainda conta com as melodias de Obongjayar dando espaço para respirar entre os versos.

Na mesma linha de Some Rap Songs de Earl Sweatshirt, o novo disco de Brown não tem nenhum “conceitão” por trás. É a prova de que um bom disco de Rap não precisa de muito: bastam boas rimas em cima de boas batidas. Por isso, a produção musical fica a cargo de lendas como Q-Tip, JPEGMAFIA, Paul White, sem falar das colaborações com Thundercat, Stading On The Corner e Flying Lotus – um baita time. Danny Brown, na verdade, também está ensinando como acertar com o Boom Bap em 2019. Apesar da postura de rockstar do começo de sua carreira se alinhar com o que a cena atual anda adotando, ele parece não dar a mínima por não ser mais o mesmo. “No ice on my neck but she loves me for my charm” (Em tradução livre para o português seria algo como: “Sem correntes no pescoço, mas ela me ama pelo meu charme”), canta em “Savage Nomad”, talvez a melhor música deste projeto. Para entendê-la, pense no que seria o resultado de uma produção do Just Blaze para o Jay-Z depois de cair em um balde de ácido com rimas instrumentais simples. “Dirty Laundry”, por sua vez, é basicamente um loop de “Aurora Spinray”, do grupo psicodélico Syrinx, dos anos 1970, que se estende por um minuto. “Change Up” e “Theme Song” ganham pontos por suas excelentes batidas que destacam o Lo-Fi com alguns toques “glitch”.

Com um programa de humor na Viceland e uma filha de quatro anos, o rapper está bem distante do universo repleto de drogas descrito nas rimas de XXX (2012) e Old (2013) ou da depressão e da ansiedade de Ahtrocity Exhibition (2016). Por isso, uknowhatimsayin¿ é o disco menos pessoal de Brown. O que não é necessariamente ruim. “É meu álbum de Stand Up Comedy”, definiu. Se você considera Danny Brown um rapper experimental, ouça de novo. Aqui, ele propõe novas abordagens para o Rap clássico, uma aula para MCs que estão apegados em seus lançamentos dos anos 1990 e fazendo rimas anti-vacinação ou “SoundCloud rappers” desesperados por serem tão somente “diferentões”.

(uknowhatimsayin¿ em uma música: “Savage Nomad”)

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BOM PARA QUEM OUVE: Danny Brown