Resenhas

David Bowie – No Plan EP

Disco póstumo é essencial e mostra três canções inéditas de David Bowie

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Ano: 2017
Selo: Columbia
# Faixas: 4
Estilos: Rock Alternativo, Rock, Art Rock
Duração: 18:00
Nota: 4.0
Produção: Tony Visconti

Vou dar uma pequena noção do quanto a morte de David Bowie me fez mal: hoje, pouco mais de um ano depois, ainda não vi seu último clipe, Lazarus. Justo aquele que os analistas e jornalistas disseram ser a despedida de David deste mundo, encarnando a metáfora bíblica e adaptando-a: agora, quem volta dos mortos é a arte. Essa é uma visão pessoal e não peço a ninguém que concorde. Como se não bastasse isso, ainda resenhei o último trabalho do homem, Blackstar, enviando o texto para a redação Monkeybuzz no dia da morte dele, sem saber do ocorrido. O texto foi escrito – e publicado – como foi feito, um bom álbum (cotação 3,5/5) e talvez sejamos o único veículo de informação a ter uma situação assim no país. Isto quer dizer: Bowie é coisa nossa.

Sabemos que podem vir vários álbuns póstumos, relançamentos, nunca será suficiente para preencher o vazio de sua partida. Este No Plan EP pode ser o primeiro passo nessa intenção. Um ótimo passo, pois abre, justamente com Lazarus, transformada numa das canções mais tristemente emblemáticas de sua carreira. Também acrescenta nada menos que três outras composições gravadas nas mesmas sessões e destinadas a integrar um musical – também chamado Lazarus – sobre a última fase de David, justamente a confecção de Blackstar sob a égide de um câncer terminal e a capacidade do artistas superar o ser humano até nesta hora, dando a tudo uma aura de controle e metáfora até neste momento derradeiro. Toda essa romantização da despedida de Bowie é fruto do que ele quis, sua atuação como popstar foi perfeita neste sentido.

As canções inéditas mantém o mesmíssimo tom do álbum, sem qualquer motivo aparente para serem preteridas na seleção do repertório do mesmo. A beleza assombrosa de No Plan, a faixa-título, dá a pista do que Bowie andava pensando: não só a tal incursão no Jazz moderninho, mas um abraço apertado em melodias pungentes, noturnas e belas. Aqui há pouca experimentação, o que não significa dizer que a canção é pouco instigante. Há coragem de sobra pra transformar uma melodia convencional e algo lindo e belo. As outras duas composições já ciscam no terreiro do afrouxamento de limites: Killing A Little Time é mistura de guitarras sinuosas e pesadinhas com uma levada aerodinâmica de baixo e bateria, bem vigorosa e ondulada. When A Met You também tem boa fluidez, mas vai para o terreno da estranheza luxuosa, ainda que tenha um evidente potencial dançante.

Este EP é um complemento natural para Blackstar, tanto que as canções inéditas aqu contidas poderiam fazer parte do álbum sem qualquer problema. De qualquer forma, esta discussão é pouco importante diante do prazer que sua audição traz. Uma beleza total e um olá do Camaleão, esteja onde estiver.

(No Plan EP em uma música: No Plan)

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BOM PARA QUEM OUVE: Roxy Music, Brian Eno, Beck
ARTISTA: David Bowie

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.