Resenhas

Death Grips – Jenny Death

Segunda parte de disco duplo leva o grupo para outros domínios musicais e abre novas possibilidades para o futuro

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Ano: 2015
Selo: Third Worlds, Harvest
# Faixas: 10
Estilos: Hip Hop, Rap, Noise Punk
Duração: 49:13
Nota: 3.5
Produção: Death Grips

Entender Jenny Death enquanto parte definitiva da discografia de Death Grips é uma tarefa necessária. A segunda parte do projeto intitulado the powers that b – disco duplo com lançamento espaçado de seus lados A e B -, parecia terminar o ciclo do grupo de Hip Hop mais experimental do mercado, no entanto agora nos abre outras possibilidades sonoras. Mas por que essa mudança de percurso?

Death Grips, aparentemente encerraria suas atividades após o lançamento de seu projeto mais ambicioso e, nesse sentido, Jenny Death soa como o grito desesperado e colérico por mudança. Esqueça seu recente trabalho instrumental Fashion Week, imaginação profunda do grupo sobre “trilhas sonoras de publicidade”. Temos aqui o melhor de seu Noise misturado ao Hip Hop com elementos de Punk, entretanto nunca o trio havia se aproximado tanto da música “usual” como agora. Faixas como Beyond Alive e On GP, por exemplo, nos mostram uma versão irreverente do que poderia se tornar Rage Against The Machine nos tempos modernos.

Riffs de guitarra, percussão e levadas de Rock pesado colocam MC Ride como o vocalista que todos os roqueiros desajariam para sua banda: raivoso e com uma presença de palco insana. No entanto, se isso sempre e foi o diferencial de Death Grips, a aproximação inevitável com o Punk propriamente, não só na atitude como na sonoridade, surpreende e é uma grata surpresa em sua discografia. O guitarrista Rick Heinhart (Tera Melos) participa do disco, o que faz ainda mais sentido quando isolamos tais faixas dentro de sua discografia.

Claramente, como último trabalho de sua carreira, o trio quis experimentar como jamais havia feito, ao mesmo tempo em que se tornava mais acessível. Mas temos aqui também o Death Grips usual e seu tapa na cara do Rap comum com I Break Mirrors With My Face In The U.S.A, seus experimentos psicodélicos na viciante e agressiva Inanimate Sensation – faixa que coloca o ouvinte em um trilho em alta velocidade sem chance de parada -, além do Hip Hop “mais calmo” em Pss Pss.

No entanto, se o grupo sempre se propôs a nos tirar de nossa zona musical, quando o mesmo realiza tal saída, as coisas começam a fazer sentido. Why A Bitch Gotta Lie é um Eletro misturado ao Drum’N’Bass que agradaria os fãs de The Prodigy, enquanto temos até um pouco de melancolia em Turned Off (quando esperaríamos um riff de Drone Music vindo do grupo?), uma balada (Centuries of Damn) e um Eletrônico nauseante em Death Grips 2.0.

Se Niggas on the Moon, primeira parte do projeto e uma da versões mais coléricas e de difícil definição na carreira de Death Grips, nos levava à insanidade em suas experimetanções, Noise e fugas da zona de conforto, Jenny Death eleva tais adjetivos a outras potências, ao mesmo tempo em que aproxima a banda muito mais do Punk e do Rock que em outros momentos. Talvez como um disco duplo, o trabalho fosse realmente o relato definitivo de um trio pouco enquadrado no senso comum da música. No entanto, seu recente anúncio de retomada de atividades coloca esse “último disco” como, na verdade, o primeiro de uma fase ainda mais experimental e plural de MC Ride, Zach Hill e Andy Morin. Sorte a nossa.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.