Resenhas

Death Grips – Niggas on the Moon

Grupo continua demonstrando que tem uma sonoridade e atitude única no Hip Hop atual em um disco com participação de Björk

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Ano: 2014
Selo: Third Words, Harvest
# Faixas: 8
Estilos: Hip Hop, Noise, Eletrônica
Duração: 31:29
Nota: 3.0
Produção: Death Grips

O lançamento surpresa de Niggas on the Moon, primeira parte do projeto the power that b (que promete mais um LP ainda neste ano) do duo Death Grips consolida seu ar misterioso. Com uma formação que oscila em quantidade e formato, mas que tem como membros o rapper MC Ride, o baterista Zach Hill e Andy Morin, a banda americana de Sacramento se define a partir de seu som colérico, em sua atitude Punk e experimental em sua composição desde 2011, com sua primeira mixtape Exmilitary.

Podemos dizer que a visão mutante que temos do Hip Hop atual – cada vez menos distante de outras fronteiras sonoras – passa um pouco pela influência que as criações de Death Grips tiveram no estilo posteriormente, mesmo que a atitude “contra-o-sistema” do grupo nunca o tenha feito abraçar a vanguarda de seu som, preferindo o silêncio muitas vezes. Yezzus, excelente álbum de Kanye West é um dos “pequenos” exemplos de rappers que perceberam na visão cheia de ruidos, eletrônica e inversa de se criar música do grupo algo a ser seguido. O anuncio súbito de uma disco colaborativo com a cantora Björk, após um bem aceito e mais acessível Government Plates no passado, é o estabelecimento do que eles querem passar musicalmente, mesmo que muitas vezes criem faixas que fujam totalmente do nosso padrão de “música”.

Como Have A Sad Cum que traduzida de forma polida significa “tenha um orgasmo triste”, que se no nome já se mostra chocante, tem sua composição longe do que consideramos como música. Sons, ruídos e a cantora islandesa sampleada em poucos segundos em gritos que só se tornam compreensíveis pelo fato de sabermos que se trata de Björk ao longo de todo disco, são os exemplos de que a vontade do Death Grips nunca é te deixar confortável os escutando. No restante, das sete faixas que compõem Niggas on the Moon não temos outros momentos tão abstratos como este mas mesmo assim, cada música da banda é um exercício para a imaginação do ouvinte.

Este exercício imaginativo passa do questionamento de como as batidas de Big Dipper foram criadas a qual o significado real da subjetiva Say Hey Kid. A primeira é densa com um baixo que preenche todos os espaços do seu ouvido, principalmente se escutada com um headphone, e tem a prosa livre e muitas vezes distante de versos usuais do Hip Hop de MC Ride como o combustível para deixar o ouvinte nervoso. São tantos elementos distrativos dentro da mistura de samples de voz, baterias desconexas e letras agressivas que unidas deixam o estilo próximo do Punk sempre tentou fazer – tirar o público de sua zona de conforto. Say Hey Kid é talvez o momento mais onírico de todo o disco – suas letras, passando de atos sexuais a considerações sobre seus semelhantes (“ I do what my people would/ Because my people would”) se tornam assustadoras quando o clímax chega: “Say, hey, don’t you OD/Come play dead”. A ironia por trás dos versos pesados, pedindo para alguém não ter overdose, se torna ainda mais intensa e ambígua quando o tempo da música é elevado, tornando a preocupante situação de saúde real para o ouvinte: o coração palpita e o cérebro permanece confuso no meio de tanto Noise.

Mas é isso o que Death Grips vem fazendo nos últimos anos e que mesmo se mostrando ainda mais experimental neste disco, mostra sua autenticidade sonora. Quando quer brincar de Hip Hop “usual”, traz Ride mais perto de rimas esperados em Up My Sleeves, faixa que certamente tem os ares urbanos de Yezzus mas que traz na voz de Bjork um ruído sonoro lisérgico ao ouvinte. Billy Not Really é a mais “calma” do álbum mas nunca se aproxima de uma balada em seu sentido comum. Black Quarterback é a mais colérica de toda obra e tem o rapper nos seus momentos preferidos em versos livres agressivos que não são feitos para quem não aguenta a pressão de seu som.

Niggas on the Moon segue a mesma estrutura sonora de Death Grips: fuga da zona de conforto, batidas modernas – muitas vezes incompreensíveis – e uma atitude Punk, seja no “Do It Yourself” de um som original ou simplesmente imortalizado nos concertos do grupo: MC Ride comanda a apresentação como qualquer frontman de uma banda de Hardcore, OI ou qualquer variação colérica do estilo nascido na década de 1970. No entanto, estamos tratando de Hip Hop em sua essência e é isso que torna o trabalho do grupo ainda mais relevante: Ele toma as rédeas do que é realmente alternativo e incomum criando uma experiência sonora única em um trabalho menos acessível que seu último disco, Government Plates. Independente de ser agrádavel ou não, o seu contéudo artístico é inovador para quem o escuta pela primeira vez, e a vanguarda sonora se mostra ainda mais relevante quando escutamos clipping., por exemplo, grupo claramente inspirado por Death Grips, mas totalmente diferente ao mesmo tempo. Esteja preparado para imergir – mais uma vez em uma experiência densa e difícil mas sempre interessante e muito intensa – antes que a parte 2 venha até o fiml do ano.

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BOM PARA QUEM OUVE: clipping., Jeremiah Jae, Flying Lotus
ARTISTA: Death Grips
MARCADORES: Eletrônica, Hip Hop, Noise

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.