Resenhas

Death Grips – Year Of The Snitch

Com linguagem explosiva, sexto álbum é o mais extrovertido da banda

Loading

Ano: 2018
Selo: This Worlds
# Faixas: 13
Estilos: Experimental, Art Rap
Duração: 37:06
Nota: 4.0
Produção: Death Grips

Death Grips, como todo projeto experimental se preze, atua no limite. Pois não só sua música existe na intersecção de regimes musicais diferentes e, ainda além, não só a saturação dos elementos que compõem sua sonoridade façam dela uma quase não-música, mas é a sua própria existência, sua identidade enquanto banda, que está sempre em cheque na sua tentativa de articular o que é possível fazer, ou não, com o som.

Essa postura radical traz consigo alguns sintomas, como quando a banda certa vez encerrou suas atividades inesperadamente para, logo em seguida, voltar à ativa, como se fizesse tais coisas apenas para se contradizer. Outro exemplo está no seu “público-alvo”: embora a pertinência de suas provocações seja já quase um consenso, já que marca presença em alguns dos maiores festivais da atualidade, a banda tira sua força em grande parte, na verdade, dos territórios obscuros nas profundezas da Internet. Enfim, seja com os assuntos que evoca, com os temas que explora em suas letras ou, é claro, com os gêneros musicais que experimenta, Death Grips grita para o público, como se estivesse do lado de lá da fronteira de um território simbólico proibido que ousou ultrapassar.

Year of The Snitch, o sexto álbum do projeto, é provavelmente o mais extrovertido da sua discografia. Isso porque, embora esteja disfarçado de enigmático, sua mensagem é clara: ao propor um linguagem explosiva, caótica e saturada, Stefan Burnett e seus comparsas falam da raiva e emoções correlatas. Pulsam no álbum forças assustadoras e subterrâneas, tudo fora da lei, invertido, exagerado, como uma força satânica que vem para estimular os desejos perversos recalcados da família tradicional.

Há elementos vindos do Hip Hop contemporâneo – linguagem que a banda, lá no início da década foi uma das responsáveis por formatar -, do Psychobilly e também do Techno Hardcore dos anos 90. Todos esses estilos, apesar de esparsos e até mesmo distantes geograficamente uns dos outros, são semelhantes. Primeiro, por se tratarem de gêneros musicais de são resultado da combinação de outros. Segundo, por manterem uma postura agressiva diante do mundo. Em terceiro lugar está a atitude “faça você mesmo” que, neste caso, tem muito mais a ver com a rebeldia diante de autoridades do que uma vontade pró-ativa de “fazer acontecer”.

Na resenha de Bottomless Pit, Lucas Repullo disse que Death Grips se torna acessível depois de certa insistência: “é como se a sujeira, o barulho e os incômodos fossem sendo ignorados pelo nosso cérebro e a qualidade e inteligência das melodias começassem a aparecer mais claramente”. Adotando uma visão macrocósmica, ouvir o trabalho da vez é perceber como a banda se torna acessível depois de muito insistir em sua fragmentação. Mantendo sua “tradição da ruptura”, The Year of The Snitch é a epítome de uma banda que, depois de tanto apontar o dedo para falhas e fendas da sociedade, acaba paradoxalmente por revelar como faz, irresolutamente, parte dela.

(Year of the Snitch em uma música: Death Grips Is Online)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Young Fathers, Xiu Xiu, The Prodigy
ARTISTA: Death Grips
MARCADORES: Art Rap, Experimental

Autor:

é músico e escreve sobre arte