Resenhas

Descartes – Ensaio

Grupo mistura Hardcore e filosofia em sua música altamente explosiva

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Ano: 2015
Selo: Honey Bomb Records
# Faixas: 11
Estilos: Hardcore, Post-Hardcore, Rock Alternativo, Punk
Duração: 45:27
Nota: 3.5

Ensaio, disco de estreia do quarteto Descartes, é um potente exemplar do Rock experimental brasileiro. Carregado de influências como Hardcore, Post-Hardcore, Rock Alternativo e até Math Rock, o som do grupo é colocado em um caldeirão borbulhante que apresenta em sua mistura altamente explosiva noções de filosofia, existencialismo e ciência. Ainda que caiba comparações com nomes como At The Drive-In e Fugazi ou mesmo bandas como Dead Fish, os gaúchos fazem esse composto soar de maneira bem particular.

Se um filósofo dá nome a banda, não seria de se espantar que alguns paralelos entre sua música e a arte do pensar se construíssem. Por meio de aforismos, o grupo manifesta seus pensamentos. São pequenas ideias e frases que batem forte no receptor, um nocaute em apenas um verso ou estrofe – como em “Sem demora a hora vibra e ferve o que restou da calma em cada um, mas o tempo é relativo, ora uma medida de algo que não tem tempo algum” (Sangue Colorido IV) ou em “Cada frágil feição é facilmente dominada pelo medo, a insegurança de não saber quem é do outro lado do fio, afinal, é muito mais prático ver o mundo em pixels, são todos perfis subjetivos para não sujar as mãos” (Análise Poética de Conflito Temporal).

Há também o emblemático verso, também vindo, de Análise Poética de Conflito Temporal: “Não há força que rompa o elástico do tempo, não há muro que resista a colisão do elástico. Nossos papeis não saem do roteiro e o ciclo recomeça”, que concorre com a teoria de Guy Debord e seu A Sociedade do Espetáculo – em que o teórico francês diz que estamos alienados a um sistema e que todas nossas reações a ele já estão previstas pelo próprio sistema, nossos “papeis” já estão roteirizados e é impossível escapar desse ciclo. São só alguns dos exemplos filosóficos presentes na obra.

Essa repetição, o tal ciclo, pode ser percebido também no eco que o disco cria. A mesma sineta que dá boas vindas em Sangue Colorido I é a que se despede de nós em ¡Adiós Amigos!. Começo e fim que se conectam de forma cíclica, criando um efeito curioso, quase sintomático de algumas das críticas feitas aqui. Além da combatividade lírica do Hardcore, há também vários de seus elementos estéticos, como as baterias velozes e ritmadas, as guitarras distorcidas gritando em uníssono, os vocais, ora berrados, ora declamados. Ao mesmo tempo, há elementos do Post-Hardcore, como as melodias ascendentes e descendentes, assim como do Rock Alternativo e Psicodélico, trazendo aos momentos mais calmos o onirismo inerente a introspecção – lugar perfeito para filosofar sobre essas questões trazidas nas letras do grupo.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts