Resenhas

Diane Coffee – Everybody’s a Good Dog

Segundo disco solo de membro do grupo Foxygen transforma-se em seu verdadeiro cartão de visitas sessentista

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Ano: 2015
Selo: Western Vinyl
# Faixas: 11
Estilos: Soul, Rock Psicodélico
Duração: 41:00
Nota: 3.5
Produção: Diane Coffee

Adentrar no universo de Diane Coffee pela primeira vez parece acompanhar um tíquete rumo ao passado. Timbres, atitude e formato musical característicos dos anos 1960 já vinham acompanhando o projeto desde seu primeiro disco, My Friend Fish enquanto comparações inevitáveis com outro grupo, Foxygen, sempre surgem. Não é à toa, pois o alter-ego artístico de Shaun Fleming é baterista na banda que se encontra em sua turnê de despedida. Logo, não poderia existir momento mais ideal para Everybody’s a Good Dog ser lançado.

A viagem ao passado e a coincidência espiritual do segundo trabalho de Fleming e o seu grupo mais famoso podem ser deixados de lado durante a análise – uma comparação de influências e recursos pode ser mais justa. Se a sua elogiada estreia de 2013 tinha recortes Lo-Fi e aspecto de “disco feito em casa”, não podemos dizer o mesmo desse álbum. A grandiosidade na utilização de uma banda maior, instrumentos mais robustos – como uma orquestra na linda abertura Spring Breathes – ou mesmo a interpretação cinematográfica do músico fazem desse trabalho uma evolução natural e, ao mesmo tempo, surpreendente do artista.

A sensação que temos do começo ao fim do disco é de uma grande festa na qual todos se divertem enquanto o verdadeiro espetáculo é revelado: a interpretação categórica de um verdadeiro show da Broadway liderado por Diane Coffee. Seu passado é revisto e deturpado (o cantor foi o dublador norte-americano de Rei Leão e, posteriormente, do seriado Kim Possible) para que entre somente os aprendizados de interpretação e a chave de “astro mirim” seja finalmente desligada. Mayflower, por exemplo, poderia estar em qualquer musical, enquanto o ótimo Reggae de Soon To Be, Won’t To Be revela ainda mais facetas do andrógeno cantor.

Passam-se por estágios em que sua voz se mostra muito masculina, como na ótima balada Down with the Current – típica faixa escondida de um disco do Crosby, Stills & Nash – e por outras em que duvidamos que uma mulher não esteja à frente dos microfones (GovT). Não nos resta dúvida: Fleming é o ínterprete ideal para suas composições duais como Diane Coffee, nas quais gêneros são construídos a partir dos arquétipos masculino e feminino. Ao melhor estilo duas caras, o vocalista realiza diálogos internos entre os diversos personagens que passam pela sua ópera repleta de psicodelia (muito mais Rock que seu disco anterior).

A aproximação com sonoridades mais pesadas e psicodélicas casa muito bem com outros momentos em que o Gospel de seus trabalhos é revisto. Everyday é o tipo de balada cheia de Soul e espírito que implora por uma apresentação a céu aberto em um parque bastante arborizado. O uso de backing vocals femininas aparece bastante, algo que acontece em …And Star Power…, mas não deixa os trabalhos semelhantes – este segue uma estrutura muito mais psicoativa, principalmente por conta de sua interpretação, que permite diversas variações tanto na estrutura musical como em sua narrativa. Too Much Space Man pode ser o grande exemplo da diáspora do músico rumo às suas próprias pirações sessentistas.

I Dig You agradaria até um sisudo Jack White e talvez seja um dos melhores momentos do disco, nos lembrando um leve The White Stripes. No entanto, as baladas e a Psicodelia de atos como Velvet Underground e as boas vibrações de Fleetwood Mac são os fios condutores de Everybody’s a Good Dog, um disco muito bem orquestrado, cinematográfico e que pede para ser visto ao vivo (imagine a apresentação de Not That Easy, por exemplo). Se dificilmente veremos Foxygen por aqui, nos resta torcer para que possamos ver Diane Coffee no Brasil. Assim, saberemos que a chama do Rock dos anos 1960 está sendo passada com esplendor.

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BOM PARA QUEM OUVE: Foxygen, The Rolling Stones, Girls
ARTISTA: Diane Coffee
MARCADORES: Rock Psicodélico, Soul

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.