A ideia de que estilos variam sazonalmente sempre foi um pressuposto do universo musical. No entanto, a nostalgia, que hoje é um sentimento consagrado na música, ainda não havia contaminado com tanta força o imaginário do fim do século passado. O resgate de outras épocas era visto com um pouco mais de polarização, convertendo-se em motivo de celebração para alguns e de desprezo para outros mais conservadores. Como quer que seja, foi durante a década de 1990 que a crítica especializada passou a conviver pacificamente com a ideia de que a música de uma geração apropria-se dos detritos da anterior. Detritos musicais, aliás, parece ser uma boa descrição para o som de J Mascis e sua Dinosaur Jr. Nele, brigam por espaço guitarras crispadas, decibéis de rasgar os tímpanos e uma voz espremida pelo rolo compressor do peso instrumental. Se essa fritação se aplica a toda a discografia do grupo, existe uma tradução única dessa energia em Where You Been (1993).
Isso porque este foi um dos únicos álbuns de Dinosaur Jr., durante muito tempo, a ser gravado com uma banda completa. Esse espírito, de três pessoas trancadas em uma garagem, se reflete nas músicas. Faixas como “Out There”, revelam um desejo de ser épico sem precisar sair de casa – muito à maneira de Ramones em sua “We Want the Airwaves”. O sonho de tocar no rádio, à que se refere o clássico dos Ramones, é uma maneira de conquistar o mundo e ser fiel à sua própria geografia. No caso do DJr., sua assinatura musical contraditória, ao mesmo tempo tímida e agressiva, falou alto o suficiente para abrir um caminho próprio dentro de uma comunidade para, na sequência, transcendê-la.
Trata-se do primeiro impulso comercial da banda, que havia assinado com uma grande gravadora e parecia predestinada a ocupar o mesmo patamar de projetos como Nirvana, Pixies ou Sonic Youth. Não quis o destino que J Mascis abdicasse de sua personalidade introvertida para se tornar um rockstar, capaz de lotar estádios de futebol. No entanto, Dinosaur Jr. foi capaz de representar um outro tipo de valor cultural. Herdeiro da filosofia Do It Yourself do Punk, o Indie Rock norte-americano passou por um momento muito especial quando conseguiu consolidar uma visão de música que escapava da lógica dos rádios e do sucesso na MTV. Músicas esquematicamente simples, feita por amigos que se reuniam na garagem e rodavam o país em uma van foi um projeto acidental que deu certo e, em certa medida, da qual a indústria musical nunca mais se recuperou.
Where You Been é marcado por uma angústia que se traduz no som. As letras de J. Mascis tem um “quê” de nostalgia adolescente: falam de maneira genérica, um tanto quanto críptica, e quase tímida a respeito de si mesmo. O fantasma dos relacionamentos assombra o teor das palavras, mas nunca assume uma forma definida. Seja falando de complicações amorosas ou familiares, o que importa é uma válvula de escape dos espectros interiores para o mundo real. Em Dinosaur Jr. asfalto, skate e suor, marcam um estilo de vida muito definido por uma época e uma geografia. É essa a América de J. Mascis.
(Where You Been em uma música: “Out There”)
