Resenhas

Dua Lipa – Dua Lipa

Cantora inglesa traz certo exotismo a uma velha receita Pop

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Ano: 2017
Selo: Warner
# Faixas: 12
Estilos: Pop, Eletrônico, R&B
Duração: 40:43
Nota: 3.0
Produção: Ian Kirkpatrick, Verse Simmonds, Stephen "Koz" Kozmeniuk, Jon Levine, Jay Reynolds, Jack Tarrant, Andrew Wyatt, Ten Ven, MNEK, GRADES, TMS, Greg Wells, James Flannigan, Axident Miguel, Bill Rahko

Dua Lipa é inglesa de ascendência kosovar. Seus pais vieram para a Velha Ilha no início dos anos 90 e a menina nasceu a salvo da guerra da ex-Iugoslávia, mas a família foi obrigada a retornar para sua terra natal. Já no novo milênio, a menina regressou para Londres sozinha, a fim de tentar a vida. Após trabalhar como modelo, ganhou uma chance para apresentar-se como cantora, sua maior paixão desde sempre. O resultado é este primeiro álbum homônimo que mantém-se na média dos produtos expostos na prateleira que leva o nome de “novas cantoras promissoras”. Dua Lipa, o álbum, tem bons momentos, mas não chega a escapar da média existente no mercadão da indústria musical desses nossos tempos temporários.

Logo de cara dois detalhes chamam a atenção. A voz de Dua, que lembra um pouco a de Annie Lennox, um dos rostos dos anos 1980, ex-vocalista do duo eletropop Eurythmics. Lembrar o registro forte e aveludado dela é um baita elogio. O outro detalhe é a presença de 15 produtores a bordo do álbum. É o mesmo contingente de dois times de futebol soçaite e um juiz, aquela típica galera que se reúne num domingão, assa um churrascão, enche a cara de cerveja e joga um belo rachão. Nada contra coletividades, muito pelo contrário, mas a impressão que temos é que Dua surge como uma espécie de “voz de aluguel”, detentora de um contrato com a Warner Music, cujo disco teria uma cara de vitrine para testes de vários estilos e maneiras de impressão sonora. Claro que a presença dessa cabeçada (termo usado no Rio dos anos 1990 para definir galera, coletividade) no estúdio gera ruído e prejudica o resultado final do álbum, descaracterizando-o.

O que impede a estreia de Dua Lipa de fracassar é a boa qualidade de algumas canções e, especialmente, sua voz. As letras de pós-adolescente questionadora sobre sexo, amor e empoderamento, temas que vendem e asseguram o interesse do público, são todas de autoria da cantora, mantendo-se na média. Em alguns momentos há inegável brilho de algumas faixas. A melhor delas é Lost In Your Light, parceria com Miguel, uma bela amostra de fluidez com teclados climáticos, bateria humana e um refrão melódico capaz de mostrar um pedigree oitentista em algum lugar. Garden começa como uma baladinha ao piano, com uma nuance de fragilidade na voz de Dua, mostrando que ela tem versatilidade. Aos poucos vai crescendo com a entrada de percussão, efeitos e vocais de apoio multidirecionais. Thinkin’Bout You é uma canção que poderia ser gravada por cantoras mais cascudas como Corinne Bailey Rae, por exemplo, com um inegável acento R&B elegante e com andamento sinuoso.

Como curiosidade, encerra o disco uma bonita canção intitulada Homesick. Com pianos mansinhos e destaque para a voz da menina planar sobre a melodia, a composição é parceria de Dua com Chris Martin, o próprio Coldplay, que participa da gravação, contido, limitado a aparecer ocasionalmente, dobrando os vocais. É uma prova da aposta que a gravadora faz na novata, mostrando que ela pode, sim, aparecer com força ao longo do ano, dentro e fora das paradas inglesas. Mesmo assim, o álbum não é nada muito diferente dos produtos disponíveis por aí. Pode servir para dar uma variada na alimentação, mas nunca será uma boa reeducação alimentar.

(Dua Lipa em uma música: Lost In Your Light)

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ARTISTA: Dua Lipa
MARCADORES: Eletrônica, Pop, R&B

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.