O Post-Rock é um dos gêneros musicais mais humanos que existe. Os ambientes e as consequentes interpretações que são criados a partir de instrumentações etéreas, reverberadas e lúdicas tem uma relação muito próxima com o consciente e incosciente de seus compositores, sendo um dos mais eficazes tradutores de sentimentos.
O mais incrível é que toda a imensidão deste universo é criada, na maioria das vezes, sem vozes ou letras, portanto, a interpretação de cada um é bem ampla e varia muito com as experiências vividas pelo ouvinte. Encontramos nomes fortes do gênero no cenário internacional, mas com o lançamento de seu novo EP, Vazio, a banda paulista E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante mostra que este mundo de sonhos não está tão distante de nós.
Desde seu primeiro EP, lançado em 2013, a banda tem uma proposta interessante de nomear suas belíssimas composições com títulos grandes que, às vezes, parecem retirados de uma grande narrativa. Isto contribui para nos dar uma ideia do que inspirou a banda ao compor e, também, nos direcionar em um mundo tão etéreo e grande quanto o de Vazio. Todo Corpo Tem Um Pouco De Prisão nos mostra que estamos diante de um disco voltado para um tema de solidão e confinamento, seja ele físico ou psicológico. Os acordes abruptos de guitarra são pesados mas, ao mesmo tempo, tem uma beleza que nos mostra, de certa forma, o lado bom de se isolar.
De qualquer forma, é um disco mais melancólico do que o primeiro. Janela Aberta é um dos momentos em que temos esta tristeza apagada, como se estivessemos olhando pela janela de nossa prisão. …E Você Espera Por Tanto Tempo Que Já Não Lembra Mais o Porquê justifica um clima existencialista, cheio de efeitos de guitarra que dão uma dinâmica suave, mas, ao mesmo tempo, tensa. Quando Vão Saber Que Já Apanhei O Suficiente cria uma textura sonora confortável, mas ao mesmo tempo desorientante, como se a banda quisesse lembrar constantemente que, embora você esteja neste mundo de sonhos lindo, você ainda está preso.
E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante nos mostra um EP que não precisa de comparações com seu último trabalho. Temos a mesma beleza da banda, aplicada a uma narrativa diferente. É bom saber que temos artistas nacionais preocupados com esta dinâmica e identidade sonora. Este registro cria uma ansiedade grande para um futuro lançamento, seja um EP ou um disco completo.
O vazio nunca soou tão bem.
