Resenhas

Eels – Earth to Dora

Bons arranjos e poesia pouco inspirada marcam o 13º disco de Mark Everett e companhia

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Ano: 2020
Selo: E Works/PIAS
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 42'
Produção: Mark Everett

“I got hurt, oh yeah / And it didn’t feel good / I got hurt, oh, my Lord / And I got hurt good” – o refrão de “I Got Hurt” exemplifica muito da experiência de escutar Earth to Dora, 13ª inclusão que Eels faz à sua discografia. Entre algumas melodias bonitas e harmonias bem-feitinhas, a grande maioria dos versos, com pouca profundidade, pode fazer com que o ouvinte se identifique com o palhaço que estampa a capa do álbum.

Deixando essa grosseria de lado, falemos mais dele: o palhaço triste é uma figura simbólica na produção cultural para comunicar a dualidade do animador que causa riso embora carregue em si a tristeza. Não por acaso, costuma ser uma alegoria para doenças mentais – principalmente em comediantes, mas se aplica a qualquer artista ligado ao entretenimento.

Dito isso, um primeiro contato com o disco sob a influência dessa perspectiva faz com que o ouvinte tenha certa cautela, não apenas respeito, com as letras – afinal, problemas de saúde mental são temas sempre muito delicados –, mas logo percebe que as músicas estão em outro território. Não são canções sobre a vida nos palcos sob um diagnóstico psiquiátrico, mas sobre, bem, qualquer outra coisa que estivesse no campo de observação de Mark Everett.

A história por trás do álbum não poderia ser mais prosaica: a partir de uma mensagem para Dora, a iluminadora de seus shows, no grupo da produção, Mark e seus colegas começaram a trabalhar em novas composições durante o tédio com cara de desemprego que veio do cancelamento de uma turnê. Ou seja, é uma obra inspirada por um momento claramente de pouca inspiração para a banda.

É impressionante, inclusive, o quanto as duas primeiras faixas são parecidas. Entre músicas tão bobas (mais tolas ainda com o vocal desencanado de Mark, que, contudo, combinou brilhantemente com obras como Wonderful Glorious), a audição tem seu clímax – não narrativo, mas no quesito “decepção” – na letra de “Are You Fucking Your Ex?”: “I get it, everyone likes sex / But I need to know (…) / I have to ask, “Are you fucking your ex?”.

Tudo isso resulta em um sentimento de traição não por estarmos ouvindo músicas ruins, mas por serem letras horríveis em arranjos de uma beleza revoltante. Faixas como “Dark and Dramatic”, “Of Unsent Letters” e “OK” – que flertam com o minimalismo, trazendo os elementos certos na hora mais correta possível – são desperdiçadas com poesias tão fracas, e uma canção tão simpática como “The Gentle Souls” nos relembra por que Eels se mantém em atividade depois de tanto tempo. Salvam o disco? Não, e ele continua com cara de um pedido de socorro de uma carreira que encontrou o infortúnio da ansiedade.

(Earth to Dora em uma faixa: “I Got Hurt”)

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ARTISTA: Eels

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.