Resenhas

El Conejo – El Conejo

Projeto solo de Bruno Nunes tem leveza e intensidade em doses iguais

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Ano: 2015
Selo: La Petit Chambre
# Faixas: 9
Estilos: Lo-Fi, Folk Alternativo, Eletrônico
Duração: 50:38
Nota: 4.0
Produção: Bruno Nunes e André Veloso
SoundCloud: https://soundcloud.com/elconejoysonido/sets/el-conejo

Bruno Nunes, guitarrista da simpática banda mineira Constantina, surge em versão solo e enxuta, através de seu projeto El Conejo, propondo, a princípio, um encolhimento nas ambiências guitarrísticas que costuma erguer em seu grupo original, abdicando de uma suposta grandiosidade em favor de simplicidade ao pé do ouvido, no máximo, ao pé do quarto, do cômodo qualquer em que ele te apresenta suas nove canções. A metáfora habitacional procede, uma vez que o álbum é tão singelo e bonito que mais parece um convite para conhecer a casa de Bruno, ver seus discos, suas fotos, suas criações como designer, inclusive, responsável pelas belas capas de sua banda e por essa agora.

A praia aqui é uma música instrumental que parte do chamado Lo-Fi, mas que procura ser mais aparentada com as explosões de guitarras do Post Rock, mas como é despida de efeitos mais grandiosos e daquela mis-en-scéne de palco e jogos de luz negra, soa como um belo e bem feito rascunho, mas não algo como uma demo, inacabado, falho. São canções, intencionalmente delicadas, que param no ar, lembram memórias que não temos certeza se são nossas ou dele, nos levam daqui para lá sem que percebamos. Também é volta a um tempo de perfeição, de inocência, de descoberta, como o próprio Bruno anuncia, relacionando as canções de El Conejo com suas primeiras aventuranças no velho violão do avô. Também desta relação de neto em fase de descobertas, vêm as influências Folk primordiais para o trabalho, intuitivas mas que lembram algo da aridez de Nick Drake ou mesmo das ambiências de Daniel Lanois. Tudo natural, sem que percebamos com clareza.

O dado que confere mais interesse às canções reside na absoluta conexão com sonoridades brasileiras setentistas, numa versão atual do que um Toninho Horta faria, caso começasse agora a se aventurar na exploração das seis cordas. Em Rio Seco, por exemplo, esta ligação se apresenta com mais nitidez, em forma de repetição e presença de um quase riff, de um flerte um pouco mais abusado com o que se entende por Rock, mas que fica apenas na insinuação. Loops aqui e ali, palmas ritmadas e uma compleição esférica na canção fazem um belo efeito. Na canção seguinte, Passarada, a melodia some e em seu lugar surgem ruídos que dão certa ordem ao ambiente, intencional, sutil. Já em Atemporal 01 ou Sobre Tempestades em Copo D’Água, melodia e ambiente se entrecruzam na poeira que a luz do sol da tarde atravessa. É bonito, é imagético.

Em Oh Dear! Oh Dear! I Shall Be Too Late, um ruído de vinil arranhado, lido por agulha, cede espaço para pequenos e saltitantes acordes repetidos e processados, conferindo certo ar lúdico antes de engatar numa procissão de sons e comportar algumas vozes estranhas em inglês e assumir uma postura um tanto mais nervosa, lá para o final. A delicadeza total surge logo na introdução de Atemporal 02 ou Sobre Guarda Chuvas e Botas Sete Léguas, avançando por sua condução entre pequenos efeitos e violão, chegando nas duas canções finais, a ritmada e “Pop” e ritmada Ela Baila Samambaia, prima temporona de um cancioneiro mineiro setentista e a climática Sou Sertão/Boca do Vento, imersa em alternativas, mudando completamente lá pela sua metade, caindo em algo totalmente diferente, mas com coerência.

El Conejo é anti-comercial, nas palavras de seu criador. Nada é melhor que isso, pois surge o descompromisso com padrões e, em seu lugar, ergue-se esse clima confessional, sincero e cheio de boas intenções. Pequena belezura.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.