Resenhas

Elbow – Little Fictions

Novo álbum do grupo inglês segue investindo em grandiosidade

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Ano: 2017
Selo: Concord
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Britpop
Duração: 48:03
Nota: 2.5
Produção: Craig Potter

Elbow é uma banda inofensiva, certo? Ela faz uma sonoridade ideal para agradar o consumidor médio de música com origem “Rock”, um pessoal meio chato, meio conservador, meio qualquer nota. É quase como um irmão mais velho e previsível de Coldplay. Talvez eu seja muito severo com o grupo liderado pelo expansivo vocalista Guy Carvey, mas a ideia que os sujeitos passam é essa. Fazem música bonita, bem tocada, bem produzida mas inapelavelmente burocrática, careta e moldada por parâmetros há muito deixados de lado. Talvez Elbow também seja capaz de agradar aquele cinquentão que se acha jovem, os tais “Tios Sukitas” que insistem em grassar por aí.

O novo trabalho do grupo de Manchester, Little Fictions, tem dez faixas em que a gente ouve um alfinete fora do tom. Tudo é tocado à perfeição, de forma hermética, como se estivéssemos num laboratório à prova de falhas. E Rock, amigos, é sobre errar, certo? Sobre ser incongruente, no mínimo. E Carvey quer levar suas melodias e composições ao cume da perfeição. Ok, é uma ideia que vende e que tem admiradores por aí. Os arranjos – da banda e do produtor/membro Craig Potter – são eficazes e mantém a esperteza de pegar emprestado um chantilly progressivo que irá conquistar o coração daquele pessoal que vai dizer: “nossa, essa banda soa como os bons e velhos dinossauros do passado”. Gente que vai amar Guy e sua turma exatamente por isso.

Há bons momentos por aqui, claro. A faixa de abertura, Magnificent (She Says) tem um belo arranjo de cordas e uma certa explosão percussiva – caracterísitica da banda – que fazem a diferença. Boas melodias também estão presentes, especialmente em All Disco, na qual Carvey encarna uma variação dramática/canastrona de Morrissey, em meio a um instrumental contemplativo. Há também uma concepção de uso da Eletrônica, que parece emular o fim dos anos 1990, quando muita gente lançou seu “Disco eletrônico”. Firebrand & Angel* está inserida nesta visão, com uma alternância entre pianos dramáticos, bateria real e uns tambores e percussões cibernéticas.

Nesta onda de “aprofundamento da Eletrônica”, há uma canção que ainda recebe um molho New Age/contemplativo, a climática K2, que soa como se a versão 2005 de Coldplay tentasse compor uma trilha sonora para praticar ioga. Pianos também ornam a boa introdução de Montparnasse que é a única faixa abaixo da marca dos três minutos de duração, mas que abre caminho para dois bons exemplos da estética encaretante de Elbow: os intermináveis 8:26min da faixa-título, que pisa fundo na percussão eletrônica e no progressivismo estéril e sua irmã-gêmea, Kindling, dramática, compassiva, conformada, com vocais eloquentes.

Pode ser implicância do articulista, pode ser percepção de uma taxa de caretice além do normal, pode ser a noção de que alguma obra só vai atrasar a noção do que realmente importa. Talvez seja dar importância exacerbada a um álbum de Rock, talvez seja falta de paciência com bandas que escolhem a solenidade sem qualquer conteúdo. Talvez não.

(Little Fictions em uma música: Magnificent (She Says))

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BOM PARA QUEM OUVE: Doves, Coldplay, Young the Giant
ARTISTA: Elbow

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.