Resenhas

Elliott Smith – XO

Após o sucesso e a indicação ao Oscar, retorno é ousado e com produção mais encorpada, mas mantém a essência singela de sempre

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Ano: 1998
Selo: DreamWorks
# Faixas: 14
Estilos: Indie, Soft Rock, Pop Rock
Duração: 44'
Produção: Elliott Smith, Tom Rothrock, Rob Schnapf, Larry Crane

O ano de 1997 foi um divisor de águas na vida de Elliott Smith. Do núcleo Indie, o cantor era considerado bem nichado até o lançamento do disco Either/Or, um de seus maiores sucessos até hoje, e a indicação ao Oscar de Melhor Canção Original com “Miss Misery”, do filme Gênio Indomável, de Gus Van Sant. A indicação, que o levou a se apresentar na cerimônia da premiação, fez com que a estreia de seu próximo trabalho, XO, fosse cercada de expectativa.

Apesar dos, àquela atura, bons anos de carreira, Elliott Smith sempre foi um artista mais “local” de Portland até ser notado pelo Oscar. A fama repentina repousou estranhamente no músico, assunto bem retratado no documentário Heaven Adores You (2014). Em uma entrevista ao 2 Meter Session, plataforma musical holandesa, Elliott comenta que ele não é a pessoa ideal para ser famosa e diz que, quanto menos pensa nisso, mais feliz é.

Com toda a aclamação repentina, maratonas de entrevistas e uma legião de novos fãs, chegou XO, quarto disco solo do cantor. O álbum foi o primeiro de Elliott a sair por uma grande gravadora, a DreamWorks, o que dividiu opiniões dos fãs antes do lançamento, principalmente por conta do receio do ser um trabalho com uma produção mais extravagante do que a de seus antigos trabalhos. Além disso, XO foi concebido em um momento agitado: Elliott tinha deixado Portland e se mudado para o Brooklyn, em Nova York, depois de terminar um relacionamento. Na época, o cantor também sofria com a depressão, doença que o acompanhou por muitos anos. No meio de todo esse conturbado contexto pessoal, ele ainda precisava lidar com as lentes do show biz e com a pressão do público, ansioso para saber qual seria o próximo passo de sua música após Either/Or e “Miss Misey”. Apesar de toda essa apreensão com o futuro, no disco, o cantor se vira para o passado.

Produzido por Elliott, Larry Crane, Tom Rothrock e Rob Schnapf e com 14 faixas, XO encarna aspectos de antigos trabalhos de Elliott, com os quais todos já estavam acostumados: voz, violão e melancolia. Mas é nesse álbum também que o cantor nos mostra mais versatilidade, mais melodias e letras ainda mais poderosas. Se em Either/Or, Elliott introduz, discretamente, outros instrumentos, aqui, ele vai além. Trompa em “A Question Mark”; piano em “Waltz #2 (XO)” e em “Baby Britain”; a participação especial do habilidoso – e hoje, aclamadíssimo – Jon Brion tocando teclado em “Waltz #1”, “Bottle Up and Explode” e “Everybody Cares, Everybody Understands”. Os novos elementos na produção não o fazem perder a mão em nenhum momento. Nenhuma das adições parece inadequada. Tudo se encaixa perfeitamente.

A maior parte das músicas reflete sobre relações passadas, algumas românticas, outras familiares, como é o caso de “Waltz #2 (XO)”, o ponto mais alto do álbum. Na faixa, ele fala sobre a mãe, que, depois ter sofrido muito na relação com o pai de Elliott no passado, se tornou uma mulher mais fechada – ele usa a música para dizer que sente muito pelo por tudo que ela passou e, que mesmo com a distância emocional entre eles, ele a amaria. No meio das reflexões sobre suas relações, Elliott parece, muitas vezes, se colocar pra baixo, como quando canta sobre não ser o suficiente, em “Pitseleh”, revelando seus pensamentos suicidas quase que abertamente, tema abordado novamente em “Bottle Up and Explode”.

Assim como em todos os trabalhos passados, em XO, Elliott escreve de uma maneira muito íntima, seu trunfo máximo para que tanta gente se identificasse e continue se identificando com suas letras. Mas a maneira mais pessoal com que o cantor detalhava alguns temas nem sempre era um reflexo do que ele vivia. Durante toda sua carreira, ele também escreveu sobre situações vividas por outras pessoas, como em “Baby Britain”, que fala sobre uma mulher lidando com os problemas enchendo a cara. Vícios em drogas também fazem parte de seu universo – ainda que ele abordasse o tema sem ter experimentado qualquer uma delas, aponta Ashley Welch, em Heaven Adores You.

Mesmo com dois singles fortes (“Waltz #2 (XO)” e “Baby Britain”), XO não tem um êxito comercial tão grande como “Between The Bars” ou “Say Yes”, ambas de Either/Or. Mas, de maneira alguma, é um trabalho esquecível. Bem longe disso. Aqui, temos algumas das melhores e mais pessoais composições de Elliott Smith, entoadas a partir de um trabalho melódico belíssimo e arrebatador. E a força das letras desperta uma sensação – em mim e em tantos fãs – das mais valiosas: a de que há alguém no mundo que nos entende.

(XO em uma faixa: “Waltz #2 (XO))

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ARTISTA: Elliott Smith