Resenhas

Emicida, Rael, Capicua e Valete – Língua Franca

Reunião entre brasileiros e portugueses mistura duas realidades em forma de boa música

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Ano: 2017
Selo: Sony Music/Laboratório Fantasma
# Faixas: 10
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 37'
Nota: 4.0
Produção: Fred, Kassin e Nave

Emicida cruzou novamente o Atlântico para encontrar uma de suas mães culturais – após a África em Sobre Crianças…, chegou a vez de visitar a pátria que nos deu a língua e tantos costumes. Ele e Rael foram recebidos pelos rappers portugueses Capicua e Valete para darem forma juntos ao que resultou no disco Língua Franca, mais um projeto que parece tentar minimizar as distâncias também artísticas entre Brasil e Portugal.

Para os ouvidos aqui da América do Sul, fica a impressão de um álbum mais brasileiro do que lusitano, seja pelos nossos dois músicos terem mais presença no repertório (há, inclusive, uma música só dos dois, sem os portugueses), pelas figuras de linguagem tão próprias daqui (de “é noiz” a referências à cultura local), ou mesmo pelos temas periféricos que algumas das faixas trazem, aqueles que estamos acostumados a dialogar tanto na arte, quanto no dia a dia.

“Parece que a morte gosta mais de preto e de favela”, Rael versa em Vivendo com a Morte, por entre um repertório que cita bastante o universo dele e de Emicida em composições detalhadamente autobiográficas (como em Egotrip e Amigos, por exemplo) como exemplos do que acontece no país, nas críticas sócio-culturais (muito bem-vindas) que já esperamos deles. Capicua e Valete participam de momentos com temas mais universais, seja o da finitude da vida na mesma Vivendo com a Morte, do espaço para a arte em Gênios Invisíveis ou da própria música na metalinguística Ela.

As faixas são bastante variadas, com referências múltiplas a estilos periféricos misturados ao Rap que une a arte dos quatro. Há o Funk Carioca e A Chapa É Quente e temas africanos em AFROdite (forte candidata a favorita de muitos), um momento mais Pop em Ideal e o peso mais próprio do Hip Hop em (A)tensão! – o momento mais explicitamente político da obra.

Com isso, Língua Franca é um lançamento que consegue agradar os mais diversos ouvidos que acompanham Emicida e Rael em suas carreiras, com o bônus de mais dois preferidos para suas listas (principalmente Capicua, que é, dos quatro artistas, quem mais aparece no álbum). Daqui de longe, é difícil prever como os portugueses receberão o trabalho, mas os ouvidos brasileiros podem aproveitar à vontade a identificação com os versos, a bela produção e o charme dos sotaques.

(Língua Franca em uma música: Ela)

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MARCADORES: Hip Hop, Rap

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.