Resenhas

Eminem – The Marshall Mathers LP2

Sequência de obra clássica só nos relembrar as qualidades de seu antecessor em meio a um dos piores momentos da discografia do rapper

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Ano: 2013
Selo: Aftermath, Interscope, Shady
# Faixas: 16
Estilos: Hip Hop
Duração: 78:13
Nota: 2.0
Produção: Rick Rubin, Eminem, Luis Resto

Eminem já foi o maior nome do Hip Hop. Soube como motivar um público disperso em meio à boybands e cantoras Pop a se envolver com um ritmo que era miscigeneado de forma errada. Com uma personalidade explosiva, histórias e polêmicas constantes, o músico conseguiu praticamente dominar o mundo da música ao unir o seu talento de rimas rápidas, ferozes com batidas compreensíveis e apelativas. No entanto, a utilização do pretérito perfeito não é toa. E ***Marshall Matters LP2 é mais um deslize em uma carreira que aos poucos se extingui.

A abertura Bad Guy demora para engrenar mas quando mostra as suas verdadeiras cores vemos que pelo menos, o rapper ainda consegue manter a sua ferocidade e soar respeitado no meio. O sample de Rhyme or Reason e o os versos de Eminem, cantando no mesmo tom e estilo de voz do mestre Yoda nos fazem lembrar os bons momentos hilários de sua carreira. No entanto, o refrão começa a destoar do tom e a sequência é uma montanha russa rumo ao chão, sem fim. Tentativas genéricas de demonstração de atualização musical através de batidas soam como um exercício retrógrado deprimente para um músico que determinava tendências anteriomente.

So Much Better, faixa que tenta inflar o ego de Eminem, é um tiro pela culatra, e mostra-se extremamente longa. Aliás, ao longo de cerca de 80 minutos somos forçados muitas vezes a pular músicas, olhar o relógio e refletir qual é a função de toda esta produção. Survival é elementar em sua pegada Sleigh Bells, no entanto, as guitarras, mesmos básicas conseguem elevar de certa forma o espírito do disco, e o rapper versa rapidamente como de costume. Legacy é a balada do disco mas não traz nada de novo ao gênero ou mesmo a sua carreira, um simples caça-niquel. Asshole é o momento mais pesado de toda obra devido as letras que abordam a personalidade já conhecida do músico. No entanto, a violência não parece mais justificável para o músico que abordava a sua recuperação em Recovery de 2010. Frases homofóbicas, machistas e raivosas são a tentativa de revitalizar um personagem que não faz mais sentido aos 40 anos de idade.

Berserk tem clara influência nos Beastie Boys mas com uma produção excessiva, megalomaniaca e desnecessária. Rap God é um dos poucos momentos que temos o rapper mostrando o seu melhor em versos rápidos, certeiros e que dificilmente conseguem ser imaginados sendo feitos ao vivo sem pausas. No entanto, isso é Eminem, cantando mais rápido que o BPM de suas músicas e é uma das poucas faixas justificavéis aqui. A parceria com o melhor nome do Hip Hop no ano passado, Kendrick Lamar é fraca, extremamente fraca. Toda a expectativa ao redor de Love Game que poderia muito bem alanvacar a obra acabou se tornando um exercício de Reggae sem o menor sentido. Nenhum dos dois rima como um MC, e se a intenção aqui é ser engraçado ou irônico, o resultado final é amargo e non sense, um das piores realizações de ambos em suas respectivas carreiras.

Se antes conseguiamos perceber logo de cara um single com características de sucesso em qualquer obra do artista, em MM2 temos a estranha sensação de que não estamos caminhando para lugar algum. Mesmo nos últimos momentos do cantor em que a priorização por parcerias de frutíferas como a feita com Rihana no hit Love the Way Yoy are, traziam de volta um público que parecia ter esquecido o rapper, vemos que a mesma parceria parece ser – quase – a única salvação aqui, infelizmente. Longe de ser um dos melhores momentos da carreira de Eminem, a faixa traz a mesma fórmula anterior, dá um pequeno tapa nas batidas para as tornarem um pouco mais contemporâneas e é isso. Algo que chega a ser inaceitável para um músico que ainda ousa dizer ser o fodão do gênero.

Trazer o nome de uma obra clássica, The Marshall Mathers LP de 2000, segundo álbum de sua carreira e que de certa forma revolucinou o gênero foi uma medida ousada. Como uma sequência hollywoodiana cliché em que o filme seguinte tem muito mais recursos, dinheiro e produção mas não sabe utilizar a verba, e acaba se resumindo a explosões, efeitos especiais e falta de conteúdo, The Marshall Mathers LP2 é um excelente produto. No entanto, está não era a intenção de Eminem ao voltar aos estúdios após três anos. No meio de tantos nomes jovens com abordagens diferentes mas que tentam inovar no estilo, o rapper parece ter se perdido em meio a fórmulas de sucesso passadas e esqueceu-se do que o fez ser venerado durante muito tempo: a sua criatividade contraventora. Agora, infelizmente, trazendo seus personagens do passado e utilizando-se de batidas genéricas, o músico chega a um dos piores momentos de sua carreira. Se as vendas gigantescas do disco dizem o contrário, eu só tenho a lamentar porque são falsos indicadores do que pudemos escutar aqui. Como fã de sua música, eu só desejo um momento de reclusão e reflexão para quem sabe, uma parceria com Dr Dre surja no fim no túnel.

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BOM PARA QUEM OUVE: Dr Dre, Kendrick Lamar, Jay-Z
ARTISTA: Eminem
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.