Resenhas

Emma-Jean Thackray – Yellow

Estreia solo da produtora e multi-instrumentista britânica percorre diferentes fases do Jazz e cria jornada psicodélica arrebatadora

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Ano: 2021
Selo: Movementt
# Faixas: 14
Estilos: Jazz, Jazz Funk,
Duração: 49'
Produção: Emma-Jean Thackray

O Reino Unido tem sido, nos últimos anos, berço de uma série de artistas inovadores no campo do Jazz. Saíram de lá nomes como Shabaka Hutchings, Yasmin Lacey e Nubya Garcia que, cada um a seu estilo, expandem as barreiras de até onde o gênero pode ir tantos anos depois. Com Emma-Jean Thackray não poderia ser diferente e seu brilhante segundo disco, Yellow, é prova disso.

Emma me parece uma daquelas estudiosas do Jazz, mas que, além dos grandes clássicos, se interessa também por novos desdobramentos do gênero, principalmente seu cruzamento com Hip Hop, Funk e Soul. Aqui, a multiinstrumentista e multitalentosa artista mostra bastante versatilidade ao trazer o moderno e o clássico de maneira ímpar e cheia de personalidade. Os cruzamentos vêm na forma de uma experiência psicodélica – uma viagem lisérgica, ensolarada e arrebatadora, com atmosfera cósmica, cheia de formas e texturas coloridas e de diferentes tons, como a capa do disco anuncia.

Musicalmente, essa abordagem alucinógena se mostra logo de cara em “Mercury”, uma aproximação ao Spiritual Jazz de Alice Coltrane ou Miles Davis. “Green Funk” segue a linha solar de Sun Ra; “About That” parece ter ecos de To Pimp A Butterfly; e “Rahu e Ketu” traz a levada setentista do Jazz Funk de Herbie Hancock. Já em “Our People”, Emma dialoga com seus conterrâneos e contemporâneos do Ezra Collective, em um tema lúdico e enérgico.

Títulos como “Venus”, “Mercury”, “Third Eye” e “Sun” também revelam como os elementos cósmicos/espirituais e quase esotéricos se juntam à proposta lisérgica de Thackray. Nas letras, ela enfatiza a mensagem em trechos como “Open your eyes, before you open your mouth; open your heart to open up your mind”, cantando como forma de mantra em “Say Something ou “To speak, to hear, to know, to love / Our communities are bound by words, by listening”, de “Mercury”. O disco evoca a todo momento uma estética Flower Power, mas sem deixá-la caricata ou anacrônica. Até porque o que mais impressiona no resultado atingido em Yellow é o quanto ele é fácil aos ouvidos. Em meio à mistura entre gêneros e influências tão diferentes, a paleta de cores é incrivelmente iluminada.

(Yellow em uma faixa: “Sun”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts