Resenhas

Entropia-Entalpia – DEMOLIÇÃO

Estreia de músico Recifense traz leitura urgente das transformações urbanas atuais

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Ano: 2017
Selo: MAMBArec
# Faixas: 4
Estilos: Techno, House
Duração: 26:00
Nota: 4.0
Produção: Entropia-Entalpia

É inevitável não sentir vertigem ao ouvir o primeiro EP do produtor recifense Entropia-Entalpia. Como se as relações termodinâmicas da alcunha que Matheus Câmara escolheu para seu projeto de Techno/House se transformassem em energia sonora, vemos uma constante oscilação entre elementos sonoros percussivos e sintetizadores agressivos que transformam-se em uma atração quase que irremediável ao desconhecido.

Entropia-Entalpia é fruto de experiências ricas vividas por Matheus em seu pouco tempo de vida, 19 anos. Morador de Angola durante alguns anos de sua formação musical, ele soube trazer rapidez de BPMs de Kuduro a uma produção que tenta ser global em seus gêneros plurais. No entanto, o fato de viver durante os últimos cinco anos em São Paulo – momento em que as festas underground de música Eletrônica criaram raízes fundamentais na capital que abriram os ouvidos de diversas pessoas para um movimento marginalmente necessário – o ajudou a criar algo único e brasileiro.

RAXADURA é um desses exemplos de agressividade e dissipação de calor que somente a pista de dança pode materializar – sua linha melódica sintética é magnética e dá o tom para uma faixa que poderia abrir um filme de ficção pós-apocalíptico, mas que escolhe ter em sua levada elementos mais orgânicos que custam a aparecer em produções musicais estrangeiras de maneira inteligente.

Se BOBQET tem uma cadência menos agressiva e quase lateral em suas batidas e elementos sintéticos, NR19 é a resposta para quem quer entender, pelo menos de certa maneira, o que pode ser a nova Eletrônica sendo produzida no Brasil, principalmente as relações entre Techno e House que surgem por aqui. Extremamente urbana, vertical e incisiva, a música é o melhor momento do trabalho e traz a sensação de vertigem sugerida no início do texto. Inevitável, é um convite às incertezas, à crise e ao que muitos julgam a superfície.

Por debaixo de camadas, Matheus instiga a DEMOLIÇÃO não como um elemento de destruição, mas de demonstrações e lições que sua vida o propiciaram, como ele cita nessa rica entrevista que explica em mais detalhes a sua obra. É compreensível entender a sua residência artística na festa Mamba Negra nos últimos anos – seu som pede para ser ouvido em ambientes ocupados, abandonados ou simplesmente gratuitos que comportem a grandeza e aspereza de suas escolhas de timbres e levadas. Agora lançado pelo selo formado pelo mesmo movimento, a MAMBArec, o produtor pode se transformar em pólvora para dissipar calor em deslocamentos urbanos necessários e transformar-se em energia catalisadora que pode ser usada ao redor do país e do mundo.

(DEMOLIÇÃO em uma faixa: RAXADURA)

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BOM PARA QUEM OUVE: L_cio, Bad_mix, Teto Preto
MARCADORES: House, Ouça, Techno

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.