Resenhas

Fabiana Palladino – Fabiana Palladino

Com produção impecável e cuidado em cada detalhe, disco de estreia da artista britânica é um dos grandes lançamentos do ano

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Ano: 2024
Selo: Paul Institute
# Faixas: 10
Estilos: Pop, R&B
Duração: 37'
Produção: Jai Paul, Fabiana Palladino

Filha de Pino Palladino (baixisita emblemático que já tocou com nomes que vão de The Who a D’Angelo) e irmã de Rocco (figurinha carimbada na cena do jazz britânico e colaborador de Yussef Dayes e Tom Misch), Fabiana Palladino não é uma mera “nepobaby” – é uma artista que tem música em seu DNA e que mostra boa parte do seu talento (nato?) em um excelente disco de estreia. Autointitulado, o álbum traz ecos de Sade e Jessie Ware (das antigas) a partir de um olhar moderno e requintado.

A carreira de cantora e produtora se manteve discreta, para dizer o mínimo, até este primeiro lançamento. São 13 anos desde suas primeiras aparições online com alguma música autoral; e sete anos desde o contrato com o selo Paul Institute, criado pelo já folclórico produtor e músico Jai Paul (um tipo de promessa de novo talento que nunca chegou a se concretizar, mas que conseguiu criar um culto ao redor de sua figura). Com singles esparsos lançados a cada um ou dois anos, Fabiana, entretanto, nunca parou de trabalhar, tanto que, ao longo dos últimos anos, colaborou com nomes como Sampha, Jessie Ware e The Maccabees.

Seja por perfeccionismo ou por qualquer outro motivo, a espera é justificada. O disco traz 10 canções muito bem esculpidas, criadas com arranjos e timbres sofisticados, melodias cativantes, letras intimistas e performances afiadas. Nada aqui é exagerado, mesmo quando estamos falando de “Give Me A Sign”, música que bebe de Prince, ou de “Can You Look in the Mirror?”, faixa que parece referenciar Janet Jackson. Há um fino equilíbrio entre momentos de opulência e o frescor econômico de uma produção que não se plastifica para soar pop. Um envolvente meio do caminho entre uma complexidade nerd nos arranjos e uma proposta geral acessível – como remanejar conceitos complicados por meio do simples (e não do simplório ou óbvio demais).

Por mais que o disco olhe pelo retrovisor (especialmente em direção à década de 1980), há um grande senso de modernidade por todo o repertório, com referências que, ao invés de soarem datadas, parecem revestidas de um aspecto futurista. “I Can’t Dream Anymore”, com seu tom de trilha sonora de hollywoodiana, é um dos exemplos desse azeitado vai e vem temporal. Com produção impecável e cuidado em cada detalhe, o disco de estreia de Fabiana Palladino é, sem dúvidas, um dos grandes lançamentos do ano – e uma demonstração habilidosa, densa e rara de manuseio das possibilidades do pop.

(Fabiana Palladino em uma faixa: “Stay With Me Through The Night”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts