Resenhas

Felguk – Slice & Dice

Dupla carioca se mostra mais preocupada em trazer um conceito nas cinco faixas inéditas e se abre a outros estilos musicais

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Ano: 2013
Selo: Dongle Records
# Faixas: 6
Estilos: Dubstep, Trap, ElectroHouse
Duração: 31"20
Nota: 4.0
Produção: Felipe Lozinsky e Gustavo Rozenthal
SoundCloud: https://soundcloud.com/felguk/dead-man-swag

Em abril, o Felguk já era pauta de um artigo meu. Naquela época falava dos produtores brasileiros com maior notoriedade na cena eletrônica mundial. Vários outros nomes poderiam rechear a lista, mas poucos não poderiam deixar de ser citados. O duo carioca é um deles. Na estrada há 5 anos, nunca deram motivos para decadência. Nesse mês lançaram o primeiro EP oficial, com seis faixas sendo a última um remix do 12th, intitulado Slice & Dice.

Felipe Lozinsky e Gustavo Rozenthal já dividiam espaço antes das CDJs. Trabalhavam em uma produtora de áudio juntos, lugar em que se reuniam depois do expediente para dividirem influências. Ali nascia um Felguk ElectroDance, assim como seus primeiros EPs mostraram. Com o tempo (e a diminuição da era Dance), peregrinaram para o ElectroHouse aos poucos, emplacando singles nos primeiros lugares da Beatport, sendo convidados para ilustrar o trailer de um festival e chegando a estar em #87 na lista da revista DJ Mag, uma das mais conceituadas no ramo. Chegaram no auge quando foram convidados pela própria Madonna para abrirem uma de suas turnês, no ano passado.

Imagino que muitos estejam chocados com a altura que uma dupla brasileira chegou. E isso, de fato, é de se orgulhar. Felguk foi convidado pela segunda vez para se apresentarem na Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo. Estou falando do único projeto nacional a pisar em terras belgas para o evento. Não é pouco. A responsabilidade rápida e alta bateu como preocupação nos dois. Em meio a tantas turnês pelo mundo todo, foi necessário um semestre para produção de Slice and Dice, um EP praticamente voltado para os grandes públicos. E eu te explico por quê.

Felguk passou três anos brincando com o Dance e passeando pelo Clash. Somente depois de 2011 vieram com uma proposta House que foi quando estouraram, encontraram sua zona de conforto e liberaram os melhores resultados de suas criatividades, Jack it e 2night. Faixas fortes, basicamente instrumentais porém com ausência de identidade. Zedd entrava na cena com um pacote típico de sintetizadores que cabia muito bem em Bassive ou Wow (com Yves V). Slice & Dice chega aí. Se afastaram um pouco do peso das produções e aprenderam que elementos de EDM fazem sucesso nos grandes festivais. Loudblue e a faixa que dá nome ao EP estão aí para isso. Isso decepciona os fãs das antigas, mas abrange e conquistas vários novos admiradores. Estratégia inteligente e normal para quem começa a fazer sucesso.

Foi a primeira vez que a dupla preferiu sair de sua zona de conforto. Além do EDM, foram resgatar a era Trance com o grande nome do Infected Mushroom. Misturaram Dubstep com Psy e uma preocupação vocal que nunca houve. A melodia encaixa bem no que ouvimos muito no início dos anos 2000. O remix de 12th também entra pro mesmo saco de inovação. Iniciando com uma estrutura de Dubstep engana ao soltar um drop Trap desconexo, a la Diplo.

E agora retornando ao início do disco, Dead Man Swag e Get Down, como as duas melhores faixas do álbum, mantiveram o que Felguk sempre provou fazer de melhor: bassline. A primeira traz um piano na intro de causar arrepios nos amantes do Nu-Jazz, tudo isso para progredir a um drop rasgado com sintetizadores do Dutch. Sim, o estilo holandês de artistas como R3hab e Afrojack teve espaço na música de abertura e casou perfeitamente. Get Down demonstra a devoção da dupla pelo produtor Tujamo. O drop, muito parecido com Who, tem influência das buzinas de Tribal House, tendência dos sets de muitos DJs atuais.

Os dois dizem que o faz esse ser o primeiro EP oficial é a preocupação em trazer uma identidade, estruturar e amarrar as músicas com um conceito. Particularmente, não consegui enxergar perfeitamente onde uma coisa amarra a outra, o que linka, o que faria tudo parecer de um grupo só. E essa é a característica do trabalho: Slice & Dice tem um pouco de tudo. É marcado pela versatibilidade, “pedaço” de ElectroHouse, outro de Dubstep, muito EDM e pitadas de Trap. Tive a oportunidade de ver a apresentação dos caras no Lollapalooza desse ano. Como eu disse no artigo, Felguk desbancou bonito muitos nomes da gringa e mostrou muita técnica, criatividade e peso no set. Perceberam afora a necessidade de criar uma marca, movimentar um público e produzir uma identidade suficiente para que reconheçam suas músicas sem esforço. Com o EP, é possível já movimentar boa parte de um set com músicas autorais. Felipe e Gustavo não aparentam temer público vasto, casas famosas, produtores renomados. Fazem um bom trabalho, estudam o suficiente, inovam nas referências e não param no comodismo. Tão no caminho certo. Hoje, com o nome que já construiram, somente lançaram o primeiro EP oficial. Não há dúvida que estão no caminho certo. O Brasil está sendo muito bem representado lá fora.

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BOM PARA QUEM OUVE: Zedd, Dada Life, Steve Aoki
ARTISTA: felguk

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King