Resenhas

Feu! Chatterton – Palais d’Argile

Terceiro disco da banda parisiense passeia por diferentes territórios do Indie e do Synthpop com carisma e ganchos cativantes

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Ano: 2021
Selo: Universo em Fogo/Virgin Records France
# Faixas: 14
Estilos: Indie Rock, Synthpop, Indie Pop
Duração: 70'

Muito pode acontecer ao longo de uma hora e dez minutos, como Feu! Chatterton nos mostra em seu terceiro álbum, Palais d’Argile. Com uma extensão em tempo e em número de faixas (são 14 ao todo) que nem sempre vemos hoje em dia, a banda parisiense mostra que sabe criar pequenas viagens sonoras que envolvem o ouvinte em uma audição que, por mais que percorra diferentes territórios, nunca se aproxima de um lugar entediante.

Trata-se de um daqueles discos que consegue entregar uma variedade considerável de influências estéticas sem parecer uma playlist sem coesão. A impressão que se tem ao final da audição é a de que o quinteto foi feliz em demonstrar a elasticidade de sua música, que se estica para os vários cantos do espectro do Indie Rock, flertando muitas vezes com o Synthpop, sem perder de vista seu lugar na linhagem da música francesa.

É inegável como muito do seu som vem na herança de Serge Gainsbourg e toda a Nouvelle Chanson – o que é sentido desde a faixa de abertura, “Un Monde Noveau”, e ganha peso em momentos como “Avant qu’il n’y ait le Mond” –, ao mesmo passo que se aproveita do som arrojado de conterrâneos como Phoenix e Yelle. As composições, em seu idioma natal, são simpáticas mesmo aos que não têm domínio da língua, e muitos ganchos chegam a ser fáceis de cantar, como o de “Écran Total”.

Essa música em particular é uma das que, em cinco minutos de duração, consegue construir um Indie Rock cheio de carisma, que evoca a tradição de bandas como Talking Heads, e ainda apresenta synths de tremenda simpatia, daqueles que te colocam dentro da dança com grande naturalidade. Ao lado de “Libre”, é um dos momentos com mais energia do disco, um fôlego de “hit” muito agradável para prosseguirmos com o repertório.

No geral, as faixas são um tanto mais discretas que essas, como o Synthpop nostálgico de “Cantique”, a quase psicodélica “Compagnons” e a curtinha “Panthère”, que, com cara de interlúdio, traz um voz e violão com tratamento bastante cru e gravação ao vivo. São pequenos grandes sorrisos que crescem como os timbres de “Aux Confins” e que fazem valer a pena a longa duração da obra e nos permitem brincar com a ideia de que um disco como Palais d’Argile vale por dois.

(Palais d’Argile em uma faixa: “Écran Total”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.