Resenhas

Foo Fighters – Concrete and Gold

Banda americana segue em zona de conforto

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Ano: 2017
Selo: RCA
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 48:16
Nota: 3.0
Produção: Greg Kurstin

Nono álbum de Foo Fighters, Concrete And Gold é um estranho paradoxo entre dois extremos: é um típico trabalho de Dave Grohl e cia, bem como um disco ligeiramente distante do que significa a trajetória do grupo até agora. Começemos pelo que o torna relativamente distinto: a presença de um produtor de Pop no comando do estúdio, Greg Kurstin, acenaria para algo novo. Metade criativa e musical de The Bird And The Bee, responsável por assinar faixas recentes de Sia e Adele, Greg poderia significar alguma oxigenação no processo criativo do album ou mesmo da banda, mas, não. Essa parte está ainda – e muito mais – concentrada nas mãos de David Grohl. Os convidados presentes nas onze faixas também são, digamos, uma novidade interessante. Paul McCartney toca bateria, Justin Timberlake, Inara George, Alisson Mossheart (The Kills) e Shawn Stockman (Boyz II Men) fazem vocais de apoio, tudo bem discreto e quase imperceptível. Também há a efetivação do tecladista Rami Jaffee, que já toca com o grupo ao vivo há bastante tempo. Deixa ver se tem mais…hum, não, as novidades param por aqui.

As marcas registradas estão todas presentes. Canções grandiosas, harmoniosas, com guitarras mixadas no talo, aquele vocal gritado – quase explodindo o pescoço – de Grohl, surge aqui e ali para dar uma legitimidade rocker/intensa a algumas faixas, coisa que impressiona muito os admiradores do grupo. Também há boas ideias, algum apreço por um Rock mais clássico, setentista ou mesmo beatlemaníaco em alguns momentos, mostrando que Foo Fighters vem cumprindo etapas sucessivas no processo de se tornar menos um grupo e muito mais um veículo de expressão de Grohl. Se antes era algo que se dizia como um problema para a criatividade da banda, hoje parece algo totalmente naturalizado. A música que sai das caixas de som é muito simples e polida, com uma qualidade de linha de montagem no Sudeste Asiático, daquelas em que os empregados ganham uma ninharia mas seguem padrões internacionais de excelência. No fim das contas, a impressão é de comer um grande hamburguer de fast food, bem montado, que vai atacar seu estômago e apenas enganar sua fome. Foo Fighters é comida industrializada. Lamento, gente.

Digo isso sem medo de cometer qualquer equívoco e há muito tempo. A imagem de um Rock barulhento, ecológico, bom moço e com pedigree que remonta à última grande banda do estilo – Nirvana – faz de Foo Fighters um nome de consenso para várias instâncias e isso significa pasteurização e aparar de arestas. Os álbuns do grupo são praticamente idênticos há uns dez, quinze anos, com a criatividade decaindo em proporção à ascensão de Grohl como mente pensante/sujeito legal/super baterista da coisa toda. Os outros integrantes do Foo parecem não se importar, e olha que Nate Mandell, Chris Shiflett e Taylor Hawkins são caras com ideias próprias e tal. Quando estão na banda principal, Grohl e suas ideias parecem prevalecer e ele sabe disso. Por essas e outras, Concrete And Gold segue as mesmas direções de trabalhos recentes, especialmente de Sonic Highways, o último disco, que também foi trilha da banda apresentando os locais importantes do Rock americano. Sintomático, não?

Há boas canções por aqui, como já é de se esperar. A melhor delas é Dirty Water, ou, pelo menos, uma parte dela, que tem uma mixagem “suja”, amadorística intencionalmente, quase soando como uma demo. Lembra um pouco a querida Big Me, do primeiro trabalho dos caras. Depois entra o som grandioso, amplificado e gigantesco, para criar um contraste interessante com o “esqueleto” da primeira parte. Ok, né? Sunday Rain, que tem McCartney tocando bateria, tem ares beatlemaníacos, seja no timbre da guitarra, seja nos vocais trabalhados, mas há a incorporação de uma levada balançada de guitarra, que dá um tchan na coisa toda. Run, com mais de cinco minutos de levadas aerodinâmicas, gritaria e cara de bonitinha mas ordinária, também é legal, ainda que tenha levado a inacreditável imprensa especializada gringa a dizer que a banda havia gravado um disco progressivo (!). A balada Sky Is A Neighborhood é outra faixa devedora dos quatro rapazes de Liverpool, um blues anabolizado, cheio de efeitos de vocais e harmonias, que pesam e enchem o espectro sonoro. De resto, nas outras faixas, é apenas o velho Grohl e seus truques de bom moço rocker. Competente e pouco original.

Concrete And Gold vai agradar a fãs, tocar em estádios e fazer muita gente cantar de olhinho fechado. Será mais uma peça na discografia da banda, a ser adquirida pelos admiradores e arquivada na estante/pasta de documentos. Em pouco tempo não fará qualquer diferença, a menos para os bolsos cheios de Grohl e seus amigos. E o mundo seguirá girando, cada vez mais próximo do fim. É isso.

(Concrete And Gold em uma música: Dirty Water)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.