Resenhas

Foxygen – …And Star Power

Nova obra do duo se mostra um passo a frente em relação a “We Are The 21st Century Ambassadors Of Peace And Magic”

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Ano: 2014
Selo: Jagjaguwar
# Faixas: 24
Estilos: Rock Psicodélico, Sof Rock
Duração: 82'
Nota: 4.0

“Nós tivemos um monte de ideias desde o lançamento de nosso último disco. Aqui, estão todas elas”, disse Foxygen a respeito de seu novo álbum, …And Star Power. E é bem por aí mesmo. A obra é formada por 24 faixas (somando mais de 82 minutos), que contemplam 24 viagens por sons vindos do Rock, Glam, Folk e Psicodelia dos anos 60 e 70. Se em We Are The 21st Century Ambassadors Of Peace And Magic essa viagem existia em algumas poucas direções, aqui, o duo se liberta de qualquer amarra e deixa sua criatividade tomar as mais diversas formas possíveis.

Sem se prender a um estilo ou a proposta de soar vintage, simplesmente por soar vintage, Sam France e Jonathan Rado chegam a um resultado que leva adiante o que os fez ganhar o reconhecimento no começo de 2013. Esse crescimento vem não só no número de faixas ou na quantidade de estilos com que brincam, mas na maturidade de conseguir guiar o ouvinte nessa grande viagem, em saber criar e ordenar as faixas de forma a facilitar a audição e ambientar quem as ouve em cada terreno diferente. E, de certa, forma é como se o álbum fosse dividido em quatro partes, cada uma com suas peculiaridades e direcionamento, parecendo lidar com cada estágio de uma viagem de LSD.

O álbum (e a “parte 1”) começa com o prelúdio Star Power Airlines, quase como In The Darkness serviu para abrir We Are The 21st Century Ambassadors Of Peace And Magic. Com pouco mais de um minuto, a faixa mostra o grupo “sintonizando” seu dial. Em meio a ruídos, díalogos desconexos e uma pegada Hard Rock na instrumentação, a “estação” certa é encontrada. O grupo parte, neste primeiro quarto do álbum, para um som mais radiofônico (ou “normal”, se preferir), apresentando parte de seus hits logo no início do disco. Os singles How Can You Really e Cosmic Vibrations, assim como as faixas Coulda Been My Love e You & I, criam esse ambientação setentista que passeia pelo Soft Rock, Pop Psicodélico e mesmo um pouco do Glam – como a bela balada à la David Bowie You & I.

Daqui em diante, o álbum segue por caminhos bem diferentes e muito mais inventivos. A “parte 2” começa com Star Power I: Overture, um interlúdio guiado ao piano e sintetizadores que abre uma mini-Ópera Rock dividida em quatro partes. A frenética Star Power Nite prepara o terreno para a chegada de What Are We Good For, divertida faixa que brinca com o Rock Garageiro de Velvet Underground e mais uma vez o Soft Rock dos anos 80. Cheia de saxofones e grooves de baixo, a faixa se torna um dos pontos mais dançantes do disco e encaminha ao fim a pequena narrativa, que se encerra com a calminha Ooh Ooh. As músicas juntas parecem servir de trilha para uma noite regada a bebidas, violência e muita música, em que as coisas parecem sair do controle, mas, como um bom filme hollywoodiano, tudo acaba bem.

Estendendo o que foi apresentado nessa mini-Ópera, a segunda parte do álbum continua em I Don’t Have Anything/The Gate a ficar ainda mais experimental e “difícil”. Aqui, o duo vaga pelos cantos mais obscuros e avant-garde dos estilos em que se inspira. Há um pouco de Noise, Country/Folk, Garage Rock, Jazz-Funk e Punk, mas sem nunca perder a acessibilidade do grupo – e faixas como Mattress Warehouse, 666 e Wally’s Farm mostram muito bem isso. Esse lado altamente lisérgico e desconexo da dupla se mostra na ótima Cannibal Holocaust (que pode lembrar bastante No Destruction), música que parece amalgamar nomes como Neil Young, The Who (em sua fase Tommy) e The Rolling Stones. A curtinha e agitada Hot Summer fecha essa sequência esquizofrência de músicas e a parte 2.

No que mais parece uma “bad trip”, a terceira fase é aberta com Cold Winter/Freedom, uma faixa cheia de drones, vozes perturbadoras e sons desconexos que parecem acompanhar a pior fase de uma viagem de ácido. Se alongando por mais de seis minutos, ela abranda seus sintomas, mas continua obscura, áspera e aterradora. Este clima persiste nas demais faixas desta parte e vai diminuido lentamente ao longo de músicas como Can’t Contextualize My Mind e Brooklyn Police Station. Elas apresentam uma mistura mais cáustica, crescendo a partir do encontro do Punk, Garage Rock e Folk Rock, e tendo sempre como o norte a psicodelia. A “viagem” acaba em Freedom II e busca pela sanidade em Talk – faixas mais brandas e significativamente menos densas que suas antecessoras.

A parte final do álbum começa com Everyone Needs Love, música que embarca em clima mais ameno. A doce e apaixonada balada, em seus quase sete minutos, traz ecos de The Beatles e Fleetwood Mac, mais uma vez brincando com o Rock Psicodélico e Soft Rock. Hang fecha o álbum em mais uma balada arrastada e que se aproxima das partes mais calminhas de We Are The 21st Century Ambassadors Of Peace And Magic.

Mais de 80 minutos depois do play, você realmente nota que o disco é um grande combinado de ideias da dupla sendo adicionadas umas sob as outras e não é à toa que a banda o descreve como “A svelte 82-minute run time of psych-ward folk, cartoon fantasia, songs that morph into each other, weaving in and out of the head like UFO radio transmission skullkrush music”. A obra foi pensada para soar esquizofrênica e consegue fazer isso com maestria, gerando um álbum caleidoscópico e cheio de momentos totalmente diversos. Ainda que bem pensado e arquitetado para dimuir a estranhaza do ouvinte, o maior “problema” do disco é sua longa duração, que pode espantar alguns ou mesmo fazer algumas pessoas desistirem no meio do caminho – o que nós não recomendamos, é claro.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts