A abordagem que Gold Panda tem da música Eletrônica me parece extremamente distinta das demais. Apesar de similaridades com diversos artistas, o zelo de suas produções mostram sempre um direcionamento sensorial e inesperado. Suas batidas coincidem com levadas instrumentais caracteristicas de gêneros consolidados, como House e Techno, e é fácil entender os elementos por trás de tudo. Porém, capturar a espiritualidade que existe por trás de seu processo construtivo é muito mais complicado.
Se Good Luck and Do Your Best é um dos melhores discos do ano, tal julgamento parte da imersão na cultura japonesa feita por Panda e sua consequente síntese Eletrônica à sua maneira.Kingdom, lançado de forma surpreendente, é uma espécie de resposta do músico à saída do Reino Unido da União Européia, o chamado Brexit – novamente, sua intenção é teletransportar o ouvinte a lugares distantes enquanto paisagens abstratas nos são apresentadas sonoramente.
Menos magistral, porém igualmente interessante, o EP funciona como um conjunto de sobras de seu disco anterior, tamanha a similaridade sensorial. Algumas faixas são quase experimentais – como Blown (Out), na qual mudanças de pitch no bumbo são sentidas até se encontrar o ponto correto -, enquanto outras nos mostram maior coesão – como a linda Stolen Phone. Em ambos os casos, a leveza por trás de samples ecoados em uma MPC velha transmite muitos sentimentos sem palavras.
A Welcome e Mediaevil podem ser consideradas como parte integrantes do livro de maneiras de produção de Gold Panda – batidas secas e uma construção de belas texturas que formam um pacote religioso para ser degustado com apenas sensações e nenhum sermão. São exemplos arrepiantes da música desse produtor. Curiosamente, Kingdom ganha um sentido gigantesco em sua faixa menos vibrante: Eurotunnel tenta reproduzir a passagem do Reino Unido à Europa através de quase dez minutos de ruídos e sensações claustrofóbicas. É claramente o término dramático de uma relação duradora e notavelmente o significado de Brexit para Gold Panda – uma passagem sem volta.
(Kingdom em uma faixa: Stolen Phone)