Resenhas

Goldfrapp – Silver Eye

Sétimo disco da banda é o mais sombrio e abissal até agora

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Ano: 2017
Selo: Mute
# Faixas: 10
Estilos: Synthpop, Eletrônico Experimental, Electroclash
Duração: 44:48
Nota: 4.0
Produção: Goldfrapp e The Haxan Cloak

A obra de Goldfrapp está cada vez mais perto do fundo poço. Por esta metáfora, pode parecer que estamos nos referindo a uma constante queda da qualidade de disco para disco. Mas, o poço e a subsequente escuridão que nos envolve quando mais perto estamos do fim dele tem sido a matéria prima para a composição dos álbuns mais recentes do grupo. Parece que aquele Goldfrapp inocente de hits Indie tão coloridos e animados como Happiness começou a ceder espaço para um grupo de referências mais obscuras que chegavam a incluir um Dark Folk acústico, como observado em seu trabalho Tales Of Us. Três anos após o último disco, a banda ressurge do fundo deste poço para nos mostrar todo o que andou coletando por lá e o resultado pode ser escrito em uma palavra: abissal.

Silver Eye é o sétimo disco do grupo, ao mesmo tempo que a experiência mais sombria e densa pela qual já passaram. De qualquer forma, a psicodelia que acompanhava os primeiros álbuns também está presente aqui, apenas direcionada para um humor mais melancólico e introspectivo. Co-produzido por ninguém menos que The Haxan Cloak, mestre da atmosfera densa e abissal, as dez faixas nos conduzem por cantos inexplorados da escuridão, por meio de sintetizadores pesados, vocais misteriosos e, por vezes, timbres desconcertantes. Entretanto, não devemos encarar este registro como malvado, apenas pela escuridão que ele nos traz incessantemente. Há momentos que as composições usam da ausência de luz para nos forçar a sentir a desorientação como uma forma de beleza, por meio de composições epifânicas e bem produzidas. É um trabalho de exploração intensa.

O single Anymore abre o lançamento nos enganando com uma batida eletrônica animada, para logo depois nos introduzir timbres pesados e distorcidos dando um ótimo tom inicial para a obra. Tigerman é mais enigmática, usando camadas de pads e percussões para compor um mantra lisérgico. Faux Suede Drifter abre um campo de referências, puxando uma ambientação de cantoras dos anos 1980, principalmente Kate Bush. Beast That Never Was usa dos timbres de sintetizadores quase como onomatopéias de criaturas estranhas que vivem em um lugar abissal do oceano. Everything Is Never Enough pode ter um apelo bastante Synthpop, mas esta é apenas a base de uma construção que cresce com o objetivo de deixar nossa mente flutuando e à deriva das correntes dessas águas profundas. Por fim, Ocean é um resumo de todo pelo que já passamos, como se aquele poço fundo fosse estreitando cada vez, nos deixando claustrofóbicos e, no fim, desse para este profundo oceano, gelado e escuro.

Goldfrapp se coloca um pouco mais além do senso comum. Acaba criando algo mais profundo que parece assustar até eles próprios. A banda permanece extremamente relevante mesmo após seis discos extremamente diferentes entre si, o que talvez seja o segredo de tamanha criatividade. O melhor jeito de se chegar ao fundo do poço.

(Silver Eye em uma faixa: Ocean)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique