Resenhas

Gorillaz – The Now Now

Músicas fluídas e ensolaradas marcam um trabalho quase “solo” de 2-D

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Ano: 2018
Selo: Parlophone
# Faixas: 11
Estilos: Indie, Eletrônica, Synthpop
Duração: 40:49
Nota: 4.0
Produção: Gorillaz, James Ford, Remi Kabaka

No ano passado, escrevi sobre Humanz, o quinto álbum do grupo “virtual” liderado por Damon Albarn. A impressão que tenho é que Gorillaz sempre encontrou-se numa espécie de desfasamento temporal, adiantado em relação ao futuro que evoca, comemorando a chegada de um fim do mundo anunciado, mas que insiste em nunca se concretizar. Afinal, o que esperar de uma banda cuja uma das músicas mais proeminentes se chama justamente Tomorrow Comes Today?

É por isso que The Now Now traz no seu título uma vontade de recalibrar os sentidos, de corrigir esse desencontro. O que sempre se traduziu numa espécie de música caótica, cosmopolita e sem fronteiras definidas, aqui toma ares de um aproveitamento mais consciente do “agora”. O que acontece na prática é, afinal, algo já explorado pela banda anteriormente, no entanto mais ou menos ignorado pelo público em geral: uma abordagem introvertida, melancólica e, consequentemente, mais suave de sua sonoridade.

A capa de The Now Now traz um 2-D solitário, como se este fosse um álbum solo do vocalista alter-ego de Albarn. De fato o que temos por aqui se aproxima muito mais de um trabalho como o ótimo Everyday Robots, ao invés da usual abordagem futurística puxada para o Hip Hop da banda. A criação de The Now Now – assim como foi com The Fall -, se dá nas “folgas” das turnês e dos demais compromissos profissionais de Albarn, por isso não será estranho notar um espécie de cansaço que se pronuncia nas músicas, para o bem e para o mal.

Vale a pena citar como a oportunidade é aproveitada para colorir o imaginário cartunesco de Gorillaz, já que na narrativa fictícia da banda o baixista oficial Murdoch é preso, deixando o papel de compositor nas mãos de 2-D. Resulta disso também um dos crossovers mais legais dos últimos tempos: quem ocupa o cargo de novo integrante é Ace, outrora conhecido por ser o membro de uma gangue das Meninas Superpoderosas.

Faixas como Sorcererz, Fire Flies e Magic City são fluídas e ensolaradas e evocam uma geografia estadunidense de clima ameno e cores vibrantes. Prevalecem os exercícios rítmicos eletrônicos de Albarn, em uma cadência bastante homogênea, que pode saltar aos ouvidos dos fãs da banda como um diferencial não muito bem-vindo. A ausência de uma certa malícia, conhecida lá dos inícios do projeto, também conta negativamente no saldo final. Como quer que seja, The Now Now é feita para ser justamente um respiro, uma mudança de tom temporária no tempo muito particular de Gorillaz. Pode ouvir sem medo.

(The Now Now em uma música: Humility)

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BOM PARA QUEM OUVE: Danger Mouse, Atoms for Peace, Blur
ARTISTA: Gorillaz
MARCADORES: Eletrônica, Indie, Synthpop

Autor:

é músico e escreve sobre arte