Resenhas

Gov’t Mule – Shout!

Desprovido de métodos e padrões, novo disco da banda demonstra muito bem talento e humildade dos músicos

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Ano: 2013
Selo: Blue Note
# Faixas: 24
Estilos: Blues, Rock
Duração: 129:10
Nota: 4.0
Produção: Warren Haynes/Gordie Johnson

Já se vão quatro anos desde o último disco lançado pelo Gov’t Mule (se fala “government mule”). A banda, que surgiu há 22 anos como um projeto paralelo para Warren Haynes e Allen woody, integrantes dos Allman Brothers, além do baterista Matt Abts, hoje é uma instituição do Blues Rock mundial. Mesmo com contratempos ao longo dos anos, o principal deles, a morte de Woody em 2001 num quarto de hotel em Nova York, não abalou uma sólida carreira, que já computa com este Shout! o décimo-terceiro disco lançado.

Shout! vem com pompa de grande acontecimento, com o aval do seleto Blue Note Records, e com uma ideia criativa. As onze canções inéditas que compõem o repertório do disco vêm com a interpretação do grupo num CD, enquanto há um segundo registro, com as mesmas onze composições interpretadas por convidados, com o Gov’t fazendo as vezes de uma (bem azeitada e infernal) banda de apoio. Warren Haynes explica que pensou em duetos inicialmente, mas acabou deixando a ideia de lado em nome da novidade em secundar os convidados. E os tais “convidados” são da maior categoria e gozam de prestígio total por onde passam, gente como Elvis Costello, Dr. John, Ben Harper, Toots Hibbert, Glenn Hughes, Jim James, Grace Potter, Vintage Trouble (recentemente no Rock In Rio), Steve Winwood e, bem, Myles Kennedy e Dave Matthews, mostrando que nada nesse mundo pode ser perfeito.

Como as coisas com o Gov’t significam a epítome da camaradagem Rock’n’Blues, os convidados vieram felizes participar. O grupo é daqueles com legiões de fãs fiéis, desses que fazem o Gov’t ser detentor da simpática marca de 2 milhões de downloads pagos através de seu site muletrack.com. A banda manteve-se aberta para a presença dos convidados, com resultados surpreendentes. Na versão de Funny Little Tragedy, por exemplo, com vocais de Elvis Costello, a sonoridade que surge das caixas de som é muito mais familiar à encruzilhada Punk Rock da virada dos anos 70/80 que do Blues Rock tradicional. Warren Haynes explica que a presença de gente com backgrounds diferentes ajuda ao Gov’t no quesito improvisão e malandragem. Nem só de convidados, no entanto, vive Shout. Canções como Scared To Live, clima inegavelmente beatle.

Shout é desses discos que não parecem feitos seguindo cronogramas ou métodos. É uma celebração no estúdio, com músicos exímios demonstrando humildade e camaradagem o tempo todo. Sensacional.

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ARTISTA: Gov't Mule
MARCADORES: Blues Rock, Ouça

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.