Resenhas

Grandaddy – Last Place

Californianos retornam com disco sensacional

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Ano: 2017
Selo: Columbia/Sony
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Rock
Duração: 43:54
Nota: 4.0
Produção: Jason Lytle

Este simpático Last Place é o sétimo álbum dos californianos Grandaddy. Um dado salta logo aos olhos: o grupo não lançava nada de novo desde 2006, mas não há qualquer impressão disso na sonoridade que é proposta aqui. Temos mais do mesmo Rock alternativo norte-americano dos anos 1990, devidamente nerdificado por trejeitos setentistas de grupos como Electric Light Orchestra e pelo uso da Eletrônica com espírito Lo-Fi. O resultado é uma música tortinha, mas que não descuida dos refrãos, não abusa da duração, com afeição para grudar nas mentes de jovens de várias idades. Tudo é engendrado com precisão científica pelo cérebro de Jason Lytle, o próprio Grandaddy, um cara que, como diria o poeta, “manja dos paranauês”.

Jason tem apreço pela melodia certinha, pelo arranjo Pop de ascendência gloriosa, pelo chantilly instrumental na medida certa e estas qualidades são o diferencial do grupo. Sua produção é precisa e não abusa do estúdio, entregando canções que soam como meio termo entre produções esmeradas e experimentações num estúdio caseiro, provavelmente num quarto. Talvez o único detalhe “negativo” seja, justamente, a noção de absoluta continuidade que o grupo dá às suas novas faixas, dando esta impressão de que estamos em 2006, talvez em 2001. Isso é legal mas pode espantar quem não era nascido na virada do milênio e rotular o estilo de Grandaddy como algo, com o perdão do trocadilho, velhusco. Jason, no entanto, cuidou deste detalhe, apostando em climas e passagens que conferem certa aura “vintage” para algumas canções.

Há momentos, inclusive, em que o sorriso do crítico se manifesta após míseros dois segundos de canção. É o caso da reluzente The Boat Is In The Barn, típica melodia beatlemaníaca com arranjo glorioso, cordas e vocais ótimos, tudo no lugar, tudo na medida certa, que ilumina a noite logo na quinta posição do álbum. O terreno já é preparado logo na abertura, com a eficiente Way We Won’t, que tem potencial para listas de boas canções de 2017. A esquisitice dá alô na curtinha Chek Injin e na invocadinha I Don’t Wanna Live Here Anymore, que poderia pertencer ao catálogo de lados-B de Weezer sem qualquer problema de identidade. Novamente a harmonia entre doçura e ângulos retos tem seu lugar em That’s What You Get For Gettin’ Outta Bed, que poderia ser uma canção de ninar para crianças legais. Mais aura Beatles surge em This Is The Part, que tem pinta de balada psicodélica mccartneyana, caso Paul fosse um cara de seus 40 anos, nascido na Costa Oeste americana.

A faixa seguinte, Jed, The 4th, surge como continuação da anterior, lembrando que uma banda pode – e deve – brincar com esse tipo de coisa. Pequenos alienígenas tomam conta da parte final do disco, especialmente em A Lost Machine, que tem pianos tristes, geradores anti-gravidade de melodia clássica, dessa vez lembrando momentos introspectivos dignos de um Brian Wilson fase Smile. O encerramento vem solene e introspectivo com a bela Songbird Song, que também parece criação psicodélica e lírica do fim dos anos 1960, quando gigantes pisavam na Terra com a ideia de desafiar limites e empurrá-los para muito longe.

Este álbum de Grandaddy surge como uma pequena bola de gude melódica, um brinquedo lírico, uma joia delicada, talvez vinda de um outro tempo e espaço. A esquisitice da banda acaba perdendo para a harmonia e o clima plácido que se instala ao longo da audição. Refrescante, aromático e cheio de predicados que vão além da audição.

(Last Place em uma música: The Boat Is In The Barn)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.