Resenhas

Greentea Peng – MAN MADE

Primeiro disco da cantora britânica injeta psicodelia no R&B e apresenta manifesto cativante de sua personalidade

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Ano: 2021
Selo: Universal Music, AMF/EMI
# Faixas: 18
Estilos: R&B, Soul, Indie
Duração: 61'
Produção: EarBuds

Contemplação e envolvimento. Greentea Peng estreia o formato “álbum” em sua discografia com MAN MADE. Na mesma união de estilos e referências natural à persona da artista britânica Aria Wells, seu disco serve como um manifesto dos elementos que compõem sua identidade e, com 18 faixas e mais de uma hora de duração, faz jus à classificação “LP”. O tempo aqui, porém, é elástico, cíclico – ou até mesmo irrelevante.

O clima que toma conta da obra é o de uma jam cheia de experimentações no estúdio, com batidas e melodias que se desenvolvem organicamente em paralelo aos versos da cantora – que também parecem sempre espontâneos. São reflexões, indagações e breves comentários que a artista acumulou ao longo de seus 25 anos. Tudo tem um cunho bastante espiritualizado e, como esta temática demanda, convida o ouvinte para adentrar e participar de seus rituais, mantras ou orações disfarçados de estrofes.

É um movimento bastante evidente em faixas como “Meditation”, mas está presente por todo o disco, da flauta que guia a audição de “Be Careful” ao clima meio Reggae, meio Psicodélico de “Earnest”. Todas as suas músicas possuem algum foco de atenção que segura na mão do ouvinte e o leva por toda a extensão da faixa, ao mesmo passo que as ambientações volumosas e espaciais dão sempre essa sensação de que nossos fones de ouvido estão no centro da ação ali ao lado de sua banda.

Há espaço para discursos políticos mais intencionais (“Kali V2”) e para brincar com o formato Pop de uma música para festa (“Party Hard Interlude”), mesmo se aqui o uso de alucinógenos indicado pela artista está mais ligado à ideia exploratória da realidade que todo o álbum propõe (“You’ve got the right to lift up your soul / To raise, raise”). E isso vale para a apreciação de sua música também: MAN MADE é uma obra para ser curtida na liberdade de experimentar outras realidades.

Chegando às últimas faixas, o álbum dá dicas de uma narrativa que pode pegar o ouvinte de surpresa. Seus momentos finais são mais carregados na instrumentação e até mesmo no vocal da artista (como em “Sinner” e “Jimstatic Blues”), talvez para expressar um retorno ao mundo real mais volumoso e do qual viemos antes do play, ou para indicar termos chegado juntos a um lugar de maior força. Independente da sua interpretação, é provável que chegue ao fim do disco na satisfação de ter conhecido mais de Greentea Peng ao longo do clima meditativo, imersivo e plenamente prazeroso que ela nos oferece.

(MAN MADE em uma faixa: “Nah It Ain’t the Same”)

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ARTISTA: Greentea Peng

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.