Resenhas

Groove Armada – Little Black Book

Dupla britânica volta em álbum duplo com inéditas, remixes e recriações

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Ano: 2015
Selo: Moda Black
# Faixas: 33
Estilos: Dance Music, Eletrônica, House
Duração: 142:21
Nota: 3.5
Produção: Groove Armada, Jaymo, Andy George
SoundCloud: https://soundcloud.com/groove-armada-1/sets/groove-armada-little-black-5

Demorou para que o conceito de coletânea de sucessos fosse definitivamente alterado como totem máximo da venda de discos pela indústria musical. Como não há mais esta instituição da forma como ela existia há uns dez anos, no máximo, as alternativas para encapsular canções de sucesso de artistas variavam, mas não iam muito além do chamado greatest hits. No caso do selo Moda Black, o bicho pega em termos de conceito, tendência, modernidade e o escambau a quatro. Tocado por Andy George e Jaymo, produtores, DJ’s e personas contemporâneas, Moda Black lançou em 2011 um catálogo de artistas novos e a ideia de lançar gente nova no terreno da Dance Music e ainda bagunçar as estruturas caretas que ainda restavam no setor. Para isso inauguraram a série Little Black Book, composta de material inédito, remixes exclusivos e ensaios fotográficos exclusivos, tudo reunido em formato de livro com capa dura. Começaram com Hot Since 1982, artista da casa e chegam ao segundo lançamento, com o duo inglês Groove Armada.

Originário de Londres, com nome de casa noturna dos anos 1970 transformada em clube na segunda metade dos anos 1990, Groove Armada é formado por Tom Findlay e Andy Cato, dois entusiastas da música que se produzia no planeta no início dos anos 1980. A interseção de Disco Music com o Funk mais Eletrônico que se fazia na época é o grande terreno no qual a dupla passeia. Apesar do nome, o primeiro sucesso foi a climática At The River, lá em 1999, no meio do rescaldo dos artistas eletrônicos ingleses interessantes da década e não fizeram feio. Desde então a dupla preferiu, apesar de lançar seis álbuns regularmente, investir em compilações temáticas, participações, remixes e coisações mil, sempre enfatizando uma certa volatilidade artística, mas, na verdade, afirmando sua paixão por seu momentum musical. Agora, devidamente associado à série Little Black Book, reafirma essa característica, mas também experimenta um momento de volta às origens, longe dos megaespetáculos eletrônicos do planeta, preferindo recriar as festas espontâneas do início da carreira.

O primeiro CD deste álbum concentra-se nas canções inéditas que a dupla tem para mostrar, as primeiras desde 2010, quando lançou Black Light, e em criações de gente bamba como Tony Allen e Candi Staton, além de recriar faixas velhuscas do catálogo do duo, além de covers, como a de Rockers Revenge, do mago branquelo do Hip-Hop, Arthur Baker. Alright, com seus gloriosos oito minutos, puxa o time de músicas inéditas, propulsionada por uma levada hipnótica, sobrevoada por vocais de divas Disco, palmas, ecos e com octanagem suficiente para encher pistas de dança suarentas. Ao longo dos mais de 70 minutos de duração, Groove Armada oferece um percurso com luzes estroboscópicas, ritmos pulsantes e uma noção marcante de que a música dançante não precisa de superprodução, mas dos contornos e influências certas. O resultado final é um bem azeitado DJ set com canções inéditas no meio do caminho, dando um tom pronunciado de surpresa a cada mudança.

O CD complementar traz releituras bem feitas de sucessos da dupla, como Love Sweet Sound – devidamente mexida por Kolsch – , Superstylin’ – retrabalhada por Joris Voorn, Chicago – reimaginada por PillowTalk – e I See You Baby, virada ao contrário por Hauswerks. Além deles, gente nova e atuante no que há de mais moderno em termos de música para dançar, como andhim, Huxley, os próprios Jaymo & Andy George, Emperor Machine, Marco Faraone, Chaim, Walker & Royce e wAFF respondem por esse time de repensadores.

Enquanto pensa em novas canções, velhos shows em galpões abandonados e mantém vivo o desejo de apenas fazer boa House Music (um termo não totalmente abrangente para a música que produz), Groove Armada segue inovando em conceitos e música. Belezura.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.