Resenhas

Güido – Coragem!

Segundo álbum do trio fala sobre todos os estágios do amor com Rock Psicodélico maduro e apaixonado

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Ano: 2014
Selo: Independente
# Faixas: 11
Estilos: MPB, Rock Psicodélico, Indie
Duração: 53"49'
Nota: 4.0
Produção: Lucas Guido, Guilherme Xavier, Gustavo Garcia, Francisco Bueno, Paulo Cavalcante e Arthur Romio

Como um parto, Coragem! nasce aos gritos iniciais de um bebê com uma maturidade que impressiona. Lembrando muito os tempos áureos de Fábio Góes, o sucessor de Triste Cru tem onze faixas que mesclam bem a dualidade que a capa de seu registro carrega entre a realidade e a subjetividade. O álbum de Güido agora fala de amor, sobretudo, a coragem que temos de assumir um sentimento tão puro e lúdico quanto o traço do dia versus a noite, e seus integrantes, ali, tímidos quase imperceptíveis diante de uma mensagem tão séria.

“Coragem para ser e crescer feliz. Ainda há muito o que fazer. O começo é aqui. Cada vez me perder para me achar e me cuidar em ti” – palavras do narrador do média-metragem que acompanhou o lançamento do disco. Trata-se de uma visão um pouco mais palpável Sobre a Coragem e tudo que engloba essa palavra forte. Em uma viagem até o extremo sul de São Paulo, conseguiram retratar um pouco de histórias corajosas dos habitantes da Vila Nova Palestina, inspirados nas faixas da obra. O filme, dirigido pelo próprio baixista Guilherme Xavier, dá uma visão macro sobre o tema. Uma visão mais profunda que carrega histórias de individuos tão diferentes, mas tão próximos, todos com uma garra que soa como sede para chegar em um objetivo.

Sobre Coragem! from Guilherme on Vimeo.

Esse objetivo seja vencer na vida, seguir seus sonhos, não passar fome, dar um bom futuro aos filhos ou até mesmo encontrar a si mesmo, vem de encontro com o que o trio diferenciou do trabalho de 2006 para o de 2012 e 2013. Saíram da dor em loco, angústia e loucura, com sons rasgados e solados, para estruturas leves, lentas, arrastadas e psicodélicas que nos faz refletir sobre a crença da mudança, sobre a força que precisamos para enfrentar esse incômodo, sobre a persistência de nunca ficar na inércia. As faixas por si só já evocam o ciclo que envolve o amor. A busca com *Solar*, o encontro com *Vem, gente!* e *Tambor*, aquela sensação boa de quando o amor já declarado se é recíproca com *Ancoragem*, o compromisso com *Confia*. Mas, como bem sabemos, depois do auge vem o declínio há as lutas, frustrações e medo com *Proteção* e até indagações com *Quem é Você?* quando os dois nem cabem mais no mesmo espelho: “Quem é você que dorme do lado de lá da cama, no quarto?”. Mas deixando de lado um ego egoísta há, em seguida, *Quem Sou Eu?* quando se chega no momento em que o outro já não faz parte do cenário, e aquele espelho que reflete sua imagem, reflete também saudade e arrependimento. Güido dá a cara à tapa quando fala de sentimento em cenário cada vez mais individualista. *Vem me pega pela mão, vamos sair de casa, desliga a televisão*”, trechos de *Junho* – melhor do álbum – deixam claro o ímpeto do artista de ter uma chance de reverter e aproximar um dia do que fez história. Até que nosso personagem desfecha a história dando uma aula de superação com *Reexistência*, afinal, “*quem vai se entregar sem lutar?*” *Coragem*, de acordo com o dicionário, é um “senso de moral intenso diante dos riscos ou do perigo; em que há ou demonstra bravura”. O álbum é como uma escola de persistência, uma aula sobre nunca desistir. Güido prova que nada é impedimento quando o assunto é amor, que a coragem é pré-requisito pra saber viver e que a luta é necessária para que se chegue lá. Por mais que haja percalços, os obstáculos são pequenos diante do risco positivo que se corre, como afirmado anteriormente em “Apanhei. Apanho. E vou continuar apanhando”. O trio faz um Rock Psicodélico/Jazz/acústico arrastado e apaixonado que caminha na coerência tendo muita força mesmo sendo ameno. É marcante sem ser agressivo. Fala de uma das vertentes mais comuns e difíceis que envolvem o substantivo. Como bem foi dito no filme, “às vezes a gente precisa chorar pra voltar à razão”, e por que vale a pena chorar pra depois sorrir? Porque não existe recompensa melhor do que amar. Reamar. E amar novamente, se for necessário. Para o prêmio, falta-nos só coragem.

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BOM PARA QUEM OUVE: SILVA, Fábio Góes
ARTISTA: Güido

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King