Resenhas

GUM – The Underdog

Quarto disco de Jay Watson traz uma psicodelia menos exagerada e mais planejada

Loading

Ano: 2018
Selo: Spinning Top Records
# Faixas: 10
Estilos: Psicodelia, City Pop, Synthpop
Duração: 38:10
Nota: 3.5

Apesar do grupo australiano Tame Impala ser uma referência máxima da Psicodelia de hoje, – fato que alguns podem considerar como “molde-principal” de uma série de bandas cópia – os projetos paralelos de seus membros tem ganhado um destaque por si só. Pond, Nicholas Allbrook e Mink Mussel Creek podem ter começado como extensões da fase Lo-fi do principal projeto, mas aos poucos começaram a delimitar contornos mais específicos criando personalidades próprias e, em alguns casos, bastante únicas. Não sendo exceção da regra, GUM, encabeçado pelo integrante Jay Watson, expôs em sua carreira relativamente curta uma predileção nítida por timbres de sintetizadores analógicos e que ora colocava na mesa ritmos mais dançantes que seus companheiros.

Agora, com seu quarto trabalho, Watson procura tornar os elementos menos caricatos e violentos. Se o disco antecessor, Glamorous Damage, procurava maximizar os componentes de cada timbre, em The Underdog há um pouco mais de parcimônia e planejamento, o que certamente torna as canções menos exageradas. Entretanto, isso não significa que Jay Watson se livrou daqueles componentes que formaram a identidade de GUM, mesmo porque, se o fizesse, deixaria de lado aquilo que é mais fundamental em sua obra. O novo registro, no entanto, mostra uma espécie de crescimento, no qual faz mais sentido o conjunto da composição do que deixar em evidência elementos específicos. Assim, percebemos um GUM menos adolescentesco e inconsequente, produzindo faixas bastante ambiciosas em sua peculiaridade.

A fim de nos imergir aos poucos no mundo que criou, Jay cria uma faixa introdutória brincando com sintetizadores para aos poucos definir o tom de que virá. Dando título ao disco, The Underdog mostra o apego pelas batidas dançantes e envolventes, utilizando timbres de metais sólidos e pads etéreos como contrapeso. Com os dois pés fincados na música Eletrônica, Serotonin fica mais para o lado Ambient, sobrepondo camadas suaves que utilizam uma batida minimal mais como um detalhe do que uma limitação rítmica. Rehearsed In A Dream cria um ambiente controlado de elementos delicados propondo, como o próprio nome sugere, um ensaio de sonho. Já The Blue Marble puxa alguns aspectos mais estereotipados da música Psicodélica como efeitos gritantes de Phaser e Repeater, mas não abandona a coesão em nenhum momento. Por fim The Fear é a epítome da Eletrônica, emplacando uma percussão envolvente junto com a automação caricata de sequenciadores dos anos 1980: uma mistura interessante.

É ótimo saber que o nome de Tame Impala cada vez afeta menos a criatividade individual de cada membro, colocando-nos para fora de certos círculos criativos e impulsionando-os a buscar sonoridades mais ousadas e curiosas. GUM nos entrega um disco que certamente agradará fãs que procuram na psicodelia a sua essência, sem abrir mão de uma produção consciente das possibilidades e de seus intuitos.

(The Underdog em uma faixa: The Fear)

Loading

ARTISTA: Gum

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique