Um bestiário é uma espécie de catálogo feito por monges que descreve uma série de animais fantásticos. Embora este nome adentre um universo não real, ele se aplica com muita firmeza ao novo trabalho de Hail Mary Mallon, vencendo a barreira do imaginário e se tornando uma verdadeira metáfora para o cotidiano urbano vivenciado pelo projeto. Neste segundo trabalho, observamos o talento dos produtores durante as catorze faixas, porém, o verdadeiro atrativo do disco fica por conta da ferocidade com a qual as rimas são reproduzidas, no que diz respeito tanto à interpretação quanto na temática.
A linha instrumental que sustenta os vocais são, em sua maioria, bastante pesados e bem simples. Mesmo tendo loops extensamente repetidos, a escolha de timbres ríspidos e distorcidos acaba se sobrepondo a isso, dando um impressão animalesca urbana a Bestiary. A faixa 4 am, por exemplo, tem uma batida contínua e um sintetizador constante e suave ao fundo, porém, quando se juntam com as rimas e uma mixagem Lo-Fi, o conjunto fica extremente pesado, mesmo tendo se formado a partir de elementos amenos. É uma fórmula que circunda o disco inteiro, mas que em nenhum momento torna o trabalho entediante ou fraco.
Mas de fato, a nossa atenção fica para as letras e seu aspecto feroz. Com rimas ácidas, Hail Mary Mallon nos apresenta catorze feras distintas de seu imaginário urbano, alternando entre temas como dinheiro, mulheres, cigarros, drogas entre outros. As letras são tão potentes que na faixa Whales, não é necessário uma guia instrumental, apenas uma batida e rimas explicitando o fator dúbio do dinheiro. Outros destaques do disco ficam por conta de Dollywood, The Soup e o excelente single Jonathann, lançado antes do álbum.
Em resumo, Hail Marry Mallon nos apresenta um registro forte que marca uma evolução nítida de seu primeiro disco. Com um conceito forte e uma produção simples, mas que é super estudada, o projeto ganha respeito e atenção para o próximo ano. Uma coleção de expressões bestiais urbanas, ferozes e bem produzidas.
