Resenhas

Happyness – Floatr

Terceiro álbum é uma viagem de ida e volta aos anos 1990, mas transcende a nostalgia com personalidade e segurança

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Ano: 2020
Selo: Infinit Suds
# Faixas: 11
Estilos: Indie, Alternativo, Slacker
Duração: 48'
Produção: Happyness

Floatr é o terceiro álbum da banda londrina Happyness. O disco nasce três anos após o ótimo Write In, intervalo de tempo especialmente marcado por algumas mudanças estruturais. Em primeiro lugar, o projeto agora é apenas um duo, encabeçado por Ash Kenazi (antes baterista) e Jon Allan. Mais importantes do que esta, no entanto, são as transformações pessoais: em Floatr, enquanto Allan medita sobre um recente término de relacionamento, Kenazi assume sua sexualidade e passa a se apresentar, na banda, como Drag.

Happyness sempre chamou a atenção por conta de sua capacidade de emular o som dos anos 1990. De fato, não faltarão associações a bandas fundamentais desse período em relação à estética apresentada. Neutral Milk Hotel ou Pavement, por exemplo, são ótimos exemplos de uma sonoridade Slacker, nostálgica, que remete àquilo que Kenazi e Allan são capazes de fazer. Na minha opinião, Heatmiser, a banda de Elliott Smith antes de ele assumir definitivamente a carreira solo, é a que tangencia mais de perto os timbres de Floatr.

Ainda assim, a banda continua nos radares por conta de algo que transcende a mera nostalgia. O duo é capaz de construir um universo que se sustenta para além das referências que evoca. Não por acaso, cada disco começa com uma longa introdução instrumental, na qual a bateria granulada e a melodia efervescente de guitarra tingem os ouvidos e transportam o ouvinte gradativamente para uma outra experiência subjetiva do tempo.

Este é um disco especialmente marcado pelas espumas flutuantes da melancolia. As letras são poéticas e trazem imagens que suscitam alguns devaneios, sem esclarecer nenhum assunto. As músicas se apresentam como pensamentos ruminantes, enigmáticos, que resmungam secretamente suas mágoas, mas que, justamente por isso, instigam a curiosidade do ouvinte.

Floatr é uma viagem de ida e volta para os anos 1990. Allan e Kenazi expõem suas fragilidades e neuroses de uma maneira muito entregue à música, sublimando-as em melodias familiares e agradáveis. Assim, de maneira paradoxal, Happyness constrói um universo particular ao citar a sonoridade de outras bandas, e denota uma segurança fora do comum ao expor suas vulnerabilidades.

(Floatr em uma faixa: “Vegetable”)

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ARTISTA: Happyness

Autor:

é músico e escreve sobre arte