Resenhas

Haux – Violence in a Quiet Mind

Na onda de Bon Iver e James Blake, primeiro álbum oficial de Woodson Black alia minimalismo, camadas sonoras oníricas e apelo Pop

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Ano: 2020
Selo: Ultra Records
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Dream Pop
Duração: 33'
Produção: Woodson Black, Jamie Macneal, Thomas Bartlett

Já se vão quase dez anos desde que James Blake convidou Bon Iver para “Fall Creek Boys Choir”, uma reunião que intersectou a espacialidade de Blake com a organicidade de Justin Vernon (ou de quem eles eram em 2011) para muito além daquela faixa. Isso porque as peças de dominó continuam caindo desde aquele lançamento e nos dando músicas que se aproveitam desse clima muito específico, que já dá para chamar de um estilo próprio dentro do Indie. James Vincent McMorrow e Henry Green são alguns dos (muitos) exemplos disso ao lado de Haux.

Violence in a Quiet Mind, seu primeiro álbum após quatro anos de singles e EPs, dá continuidade ao clima onírico, sensível e introspectivo que ouvimos tanto ao longo da última década, entre trilhas sonoras e playlists de músicas para dormir, refletir ou mesmo chorar. Haux, porém, faz isso com a vantagem de quem já chegou em meio a um cenário estabelecido, com menor grau de experimentação (e, consequentemente, de chance de erro). Ao observar o que estava sendo feito, ele optou por investir não em originalidade, mas em qualidade.

Assim, por mais familiar que o disco seja, suas músicas sabem pegar o ouvinte nos lugares certo – seja no mais abstrato, ou mesmo nos cantos dos ouvidos por onde os arranjos se projetam. É um trabalho sempre minucioso, de poucos elementos que se propagam com grande espacialidade dentro do formato de canção – são composições, inclusive, que seriam transportadas facilmente para a simplicidade do voz e violão, mas aqui ganham roupagem eletrônica para acompanhar os vocais sussurrados.

É interessante notar, inclusive, as escolhas dos timbres. Há piano logo na primeira faixa (“Hold On”), o violão vem à frente de várias delas e a união dos dois resulta em alguns dos melhores momentos do álbum, como a tensa “Killer”, a doce “Eight” (com Rosie Carney) e o encerramento tão satisfatório com “Calico”. Dá para ver que Haux – ou melhor, Woodson Black (o norte-americano baseado em Londres por trás do projeto) – é dessa geração de produtores que sabe ser eletrônico quando pode, e não ser quando precisa.

Seu modo de trabalho inclui também uma grande atenção às sutilezas. Até pela opção de desenvolver suas faixas em sonoridades mais minimalistas, Black utiliza os elementos como detalhes que surgem e se dissipam em meio à camada sonora. Isso contribui ainda mais para aquele clima onírico já mencionado, uma vez que nada rouba nossa atenção suficiente para nos “despertar” durante a audição. Assim como fizeram seus predecessores, o produtor propõe uma obra que será melhor apreciada de fones de ouvido.

Talvez a principal vantagem de seguir esse “legado” anos depois de tantos outros é que Haux consegue outro feito que valoriza sua música: um aspecto inegavelmente Pop. “Accidents” te faz querer cantar junto, “Of the Age” poderia estar facilmente em qualquer cena de cinema hollywoodiano e “Heavy” é daquelas músicas de audição fácil que você não vai se importar de ouvir algumas vezes.

Violence in a Quiet Mind não é mesmo o mais inédito dos trabalhos, mas é de um potencial de abraçar os ouvidos como poucos lançamentos desta temporada. E se é para um disco parecer com algo que já conhecemos, que seja com obras que amamos, e que seja muito bem feito. Felizmente, ele cumpre todos esses objetivos com louvores

(Violence in a Quiet Mind em uma faixa: “Accidents”)

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ARTISTA: Haux

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.