Resenhas

Hikaru Utada – SCIENCE FICTION

Com novas influências e significados, disco reinventa êxitos da carreira de um dos maiores nomes da história do j-pop

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Ano: 2024
Selo: Epic Japan/USM Japan
# Faixas: 26
Estilos: Dance, R&B e Eletrônica
Duração: 120'
Produção: Hikaru Utada, A. G. Cook, Akira Miyake, Teruzane Skingg Utada, Taku Takahashi, Nariaki Obukuro e Sam Shepherd

Hikaru Utada é um nome de relevância incontestável na música pop. Iniciando sua carreira no começo dos anos 1990, sua sonoridade nasceu permeada por influências do R&B e dance Music – de uma safra caprichada nos timbres digitais e catapultada pelas novas tecnologias musicais da época. Seu segundo disco, First Love – um misto de pop radiofônico com melodias tocantes e emocionais –, é até hoje o disco japonês mais vendido de todos os tempos no país. Na primeira década do novo século, Hikaru emplacou duas canções temas do jogo Kingdom Hearts (uma parceria entre os estúdios Squaresoft e Disney), deixando uma marca ainda mais profunda no pop internacional. Nos anos seguintes, Utada continuou com singles fortes e colaborações, consolidando seu nome como um dos maiores nomes do pop japonês.

Ao longo de 25 anos de carreira, Hikaru lançou diferentes compilações, organizando sua obra de diferentes maneiras e sempre propondo uma categorização particular que permitisse ao ouvinte uma nova percepção sobre sua obra. No entanto, esse status de “compilação” teve seu sentido significativamente transformado em seu mais recente lançamento – um “greatest hits” repleto de novas versões de canções consagradas. E vem, então, a questão: como é possível trazer um novo significado a uma discografia tão sólida?

É isso que SCIENCE FICTION procura nos responder. Ao longo dos dois discos, caminhamos por diferentes momentos de seu pop emocionante, porém não da mesma forma que foram lançados em seus discos originais. Hikaru reconhece a passagem do tempo e, para isso, propõe alterações em suas canções. Seja a partir de um remix, um novo arranjo, uma edição entrecortada e, até mesmo, novas canções, Hikaru evidencia que sua obra não é imune ao tempo, mas que pode caminhar junto dele – com transformações a cada passo. Seria muita ingenuidade pressupor que, nesses 25 anos de carreira, Hikaru Utada se manteria estática artisticamente, ainda mais pensando nas diferentes transformações de sua vida, da maternidade até sua identificação como pessoa não-binária. Este disco não é apenas um compilado “greatest hits”, mas uma verdadeira homenagem a sua história e às diferentes forças que atuam sobre suas canções tão marcantes na cultura pop.

Passando pelas 26 faixas do disco, temos exemplos de sobra da sensibilidade e da habilidade de Hikaru Utada. Seu hit número 1 de todos os tempos, “First Love”, ganhou uma nova mixagem – aprimorando alguns detalhes e nos relembrando de como a emoção é indispensável em suas composições. Já “One Last Kiss”, co-produzida por A.G Cook, é um single lançado em 2021 que fez parte da nova versão do animação Evangelion – amostra de como sua música ainda faz parte integral da cultura pop audiovisual japonesa. “Prisoner Of Love”, single de seu disco Heart Station (2008) ganhou novas texturas em uma mixagem atual feita por Akira Miyake e seu pai, Teruzane Utada. “Automatic”, de seu célebre disco First Love, permanece assustadoramente atual, contagiando o público, mais de 20 anos depois.

SCIENCE FICTION é um disco que apela para diferentes públicos – do ouvinte que nunca ouviu o pop inconfundível de Hikaru Utada até o fã mais assíduo que anseia por qualquer novidade. Em um mesmo registro temos a possibilidade de nos conectar com sua história, ao mesmo tempo em que nos surpreendemos com o quão presente sua obra ainda é. O nome do disco não parece ser um mero detalhe, já que, a partir de algo tão irrepreensível como a ciência, ainda é possível criar narrativas fantásticas. Hikaru Utada é, para todos os efeitos, a escritora mais fiel de sua ficção extraordinária e emocionante.

(SCIENCE FICTION em uma faixa: “First Love – 2022 mix”)

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ARTISTA: Hikaru Utada

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique