Resenhas

How to Destroy Angels – Welcome to Oblivion

Feito nos parâmetros de uma trilha-sonora, disco de estreia do novo grupo de Trent Reznor traz uma atmosfera densa e futurista envolvida em uma belíssima produção

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Ano: 2013
Selo: Columbia
# Faixas: 13
Estilos: Rock Industrial, Eletrônica
Duração: 65:24
Nota: 3.5
Produção: Reznor/Ross

Desde que o Nine Inch Nails de Trent Reznor entrou em um hiato em 2009, o mesmo resolveu partir para diferentes projetos. Junto ao seu produtor favorito, Atticus Ross, entrou no mundo das trilhas-sonoras hollywoodianas, compondo o argumento de A Rede Social e O Homem que não Amava as Mulheres. O primeiro lhe concedeu um Oscar e o segundo manteve o seu prestígio com uma trilha gravada em três CDs. Estes toques cinematográficos combinavam com o seu background teatral, devido as incríveis performances e vídeos compostos pelo seu grupo de Rock Industrial. Tais tendências são seguidas em seu novo grupo, How to Destroy Angels, que juntamente com sua esposa Mariqueen Maandig, acabam tornando Welcome to Oblvion um acompanhamento perfeito para uma ficção científica.

Desta vez, no entanto, os arranjos industriais ganham maior contemporaneidade, soando mais digitais que rígidos. Chips ao invés de engrenagens. Tudo isso acaba combinando com um futuro pós-apocaliptico. Sintetizadores e elementos sintéticos fazem de canções como The Loop Closes e The Wake Up exercícios imaginativos. Na minha cabeça, por exemplo, imagens de um Blade Runner, pensado agora e não há 30 anos atrás. Hallowed Ground é plausível com a chuva, devagar e conduzida no piano, e nos remete ao mundo moderno devido ao baixo constante, sirenes e sons ecoando ao fundo. É na verdade uma cidade pulsante sob uma chuva torrencial a qual, aos poucos vai limpando-a de suas impurezas.

A voz de Mariqueen aparece muito bem em diversos momentos, e dá o toque delicado e propicio da tentativa de criações atmosféricas. Em And the Sky Began to Fall, máquinas, robôs e naves se misturam a sua bela voz, deixando tudo mais teatral e intenso. Os mínimos detalhes vistos nas canções do How to Destroy Angels podem ser atribuídos a experiência cinematográfica do duo Reznor/Ross. Cada elemento parece ser escolhido cuidadosamente para que o impacto possa ser alcançado. How Long? é quase uma balada diante de tantas texturas. Mariqueen tem um dos seus melhores momentos, e contracena com uma produção interessante, e tem seu refrão como ponto alto.

Algumas músicas são curiosas. Ice Age, por exemplo, tem elementos de corda como banjos e oboés, os quais interagem com uma percussão curiosa. Esposa ou não do chefão, a moça Mariqueen sabe conduzir bem a música e, assim como o seu nome sugere, um período longíquo em que a Terra estava coberta por gelo, a canção é dissonante de tudo visto anteriormente justamente por não ser nada futurista.

Noir, assim como Blade Runner, é uma obra que certamente combina mais com a noite do que o dia, sendo talvez difícil de compreende-la fora deste ambiente. Músicas como On The Wing e Too Late, All Gone, são tensas e pedem poucos sorrisos ao rosto e mais apreensão. Recusive Self-Improvement é talvez um dos trechos mais notáveis do disco. Elementos minimalistas sendo adicionados aos poucos, junto com um baixo sintético e um volume crescente. Basicamente instrumental, algumas vozes são ecoadas mas nada compreendidas, poderia estar em qualquer uma das trilhas-sonoras compostas anteriormente.

O disco, no entanto, depende justamente do ouvinte. O mesmo tem que se envolver com a obra e imaginá-la fora da caixa, um acompanhamento a algum sonho futurista talvez, ou simplesmente entendê-lo como o que pode ser chamado de novo Rock Industrial, cheio de elementos eletrônicos mas menos bruto. Escutá-lo do começo ao fim torna-se algo envolvente porém desgastante dada a atmosfera proposta. Como qualquer trilha-sonora, a qual depende muito do filme e de sua qualidade, o disco necessita deste envolvimento em que cada um imagina visualmente o que está escutando. Tudo isso pode não ser bem correspondido ou compreendido por todos, o que não diminui esta bela produção sonora.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.