Resenhas

Hurts – Surrender

Terceiro disco da dupla britânica faz Synthpop para iniciantes

Loading

Ano: 2015
Selo: Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Synthpop, Eletrônico
Nota: 2.5
Produção: Jonas Quant, Stuart Price e Ariel Rechtshaid

Hurts é uma dupla de Manchester, Inglaterra, formada por dois sujeitos chamados Theo Hutchcraft e Adam Anderson. Theo é o vocalista melodramático e Adam responde pela confecção de melodias, teclados, guitarras e demais sons que o duo coloca em seus álbuns. Surrender é o terceiro trabalho dos sujeitos, totalmente calcado numa sonoridade oitentista polida, de nítida influência de bandas daquela época, como Erasure, Thompson Twins e quejandos, além de, visualmente, ostentarem uma aparência New Romantic resumida em ternos, penteados, caras de sérios, solenes e indecifráveis, enquanto se valem da dramaticidade dos timbres tecladeiros obtidos por Anderson para legitimar sua proposta sonora.

Não sei qual o impacto que Hurts pode ter para quem tem seus quinze, vinte anos, gente que nasceu quando o Synthpop praticado pela dupla era língua morta na cena musical mundial, composta por bandas pós-Grunge, Britpop ou formações eletrônicas noventistas, que eram, por conceito, totalmente opostas ao que se fez na década anterior. Imagino que seja fascinante ver a abordagem dos sintetizadores, a pompa e circunstância aveludadas que saem dos autofalantes (ou headphones, vá lá), porém, para quem está no ofício de ouvir música há mais tempo, não há absolutamente nada de novo no que Hurts e congêneres oferecem. É uma sonoridade datada, uma cara de paisagem irritante e uma coleção de timbragens pouco criativas, que soam como arremedos do que já foi feito antes e (muito) melhor. Mesmo assim, não dá para detonar completamente o que a dupla apresenta aqui, pelo contrário. O produto é bem acabado, as canções têm acentuação Pop evidente e, com boa vontade, Hutchcraft e Anderson são bons copycats.

Surrender tem dez faixas (treze na versão dupla de luxo) e procura seguir o caminho aberto pelos discos antecessores. A faixa-título, que logo surge no álbum, é uma vinheta cheia de vocais em tom crescente, como se a dupla tivesse recebido a incumbência de forjar uma melodia para a redenção da humanidade. Some Kind Of Heaven vem em seguida, como se fosse uma espécie de Erasure triste, com sonoridades percussivas meio chatas e os irritantes vocais de apoio, presentes por todos os cantos da canção.Why já aponta para um caminho levemente distinto, mais funkeado, no sentido Duran Duran do termo, com apelo dançante e revestimento 100% legal. Nothing Will Be Bigger Than Us, como o título sugere, é uma pataquada na frente do espelho, um exercício de vaidade/pretensão, com teclados épicos de fim de mundo e os vocais de Theo, que parecem mixados para soarem do alto da montanha, além da presença de quem? Deles, dos backing vocals, novamente recrutados para “abrilhantar” a faixa.

Rolling Stone, que nada tem de Rock, é uma tentativa de trazer um pouco de R&B noventista para a sonoridade habitual do duo. O resultado é menos incômodo que as canções solenes. Essa mistureba consegue seu ápice de eficiência em Lights, a melhor canção do álbum, que tem sutileza, falsete, guitarrinhas serpenteantes, naipe de metais sintetizados e uma abordagem mais malemolente. A impressão de acerto se desfaz ao primeiro acorde de sintetizadores de Slow, a faixa seguinte, que insinua um clima mais sexy, com alternâncias de trechos sussurrantes e em câmera lenta com refrão mais gritado, adornado pelos timbres solenes que permeiam a coisa toda. Kaleidoscope é outra boa canção, com boa ambiência dançante, com melodia em crescendo, que vai arregimentando batidas e levadas no meio do caminho, sem muita complicação. As duas faixas que encerram o álbum são bem distintas. Enquanto Wings chafurda feio na pompa esvaziada que vitima Hurts, Wish é uma bela balada ao piano, com tudo o que a dupla pode mostrar, em termos de senso melódico e boa performance instrumental.

Se Hurts sacar que é preciso criatividade e maturidade num caminho como o Synthpop, podemos esperar por boas criações no futuro. Se continuar decalcando totalmente o que já foi feito antes e melhor, só terá ressonância por pouco tempo, servindo de trampolim para novas e mais relevantes descobertas sonoras dos ouvintes. Pena, os caras podem mais.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Editors, CHVRCHES, Ellie Goulding
ARTISTA: Hurts

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.