Resenhas

Inspiral Carpets – Inspiral Carpets

Banda inglesa retorna com álbum de inéditas após 20 anos

Loading

Ano: 2014
Selo: Cherry Red
# Faixas: 12
Estilos: Rock, Alternativo, Indie
Duração: 47:48min
Nota: 3.5
Produção: Jim Spencer

Depois de 20 anos sem lançar disco de inéditas, mais uma banda dos anos 1990 resolve retomar sua carreira: Inspiral Carpets. Representante de uma espécie de facção menos prestigiada da chamada “cena de Madchester”, ali, do fim dos anos 1980, início dos 1990, o grupo era colega de shows de gente como Stone Roses e Happy Mondays. A grande diferença entre eles é que, enquanto estas bandas abriram seu Rock oitentista para batidas dançantes e psicodelia colorida, dando início ao Acid Rock, formações como Charlatans e o próprio Carpets tiveram mais critério nas influências, permitindo a entrada das sonoridades de gente como Velvet Underground e The Doors, herdando da banda californiana seu grande traço sonoro: o emprego de órgão Farfisa em seus arranjos, trazendo uma sonoridade bastante destacada do usual na época.

Mesmo com a originalidade jogando a favor, o rumo das coisas favoreceu as bandas de Acid Rock e, pouco depois, o próprio Britpop. Restou a bandas como Inspiral Carpets um papel coadjuvante, meio sem propósito, sem tantos fãs e exposição na mídia. Ainda mantinham sua base de admiradores mas não se adaptaram à ordem do dia, que versava na birra pré-fabricada de Blur versus Oasis. Aliás, interessante mencionar que o próprio Noel Gallagher já atuou como roadie do grupo, que iniciou a carreira em 1982, com o encontro entre o guitarrista Graham Lambert, o organista Clint Boon e o vocalista Stephen Holt. Até 1989, ele esteve no posto, cedendo a posição para Tom Hinley, que participou da fase de sucesso do grupo, até 1995. Após oito anos de hiato, o grupo voltou a dar shows e, só agora resolveu soltar material inédito, representado por este álbum homônimo, com doze faixas. Ironicamente, Holt reassumiu os vocais após a partida de Hinley.

O clima do disco é de total fidelidade à proposta sonora original. É interessante notar como esta sonoridade envelheceu bem. Com a total prevalência dos timbres clássicos de órgão, a festa tem início com Monochrome, com baixo musculoso e o Farfisa de Boon reinando soberano, lembrando até os punks britânicos setentistas de The Stranglers. A faixa seguinte, Spitfire tem inegável potencial radiofônico, com refrão contagiante e bela performance vocal de Holt. You’re So Good For Me já incorpora os riffs de teclado e órgão de forma mais construtiva em meio à levada, restando pouco espaço para solos, num andamento mais rápido e com clima de suspense. A derramada e sessentista A To Z Of My Heart é uma inesperada concessão ao Pop dourado de outros tempos, com um riff tecladeiro invejável, capaz de reunir trilha sonora de filme de Roberto Carlos, música romântica atemporal e dancinha num baile de formatura suspenso na lógica do tempo. Calling Out To You tem malandragem implícita de Boon ao emular hipotéticas bandas de Surf Music com gente que nunca viu o mar e nos brinda com o melhor refrão de todo o álbum.

Flying Like A Bird é balada contemplativa e lenta, boa para sonorizar uma tarde nublada na cidade. Changes retoma os pequenos pipocos de órgão na melodia, os vocais revigorantes e a bateria marcial. Hey Now é mais uma visita aos anos 1960, com melodia oscilando entre Monkees e Ramones, com andamento rápido o suficiente para dancinhas secretas. Our Time já é mais psicodélica e noventista, com guitarras crocantes e mais dança implícita. Forever Here tem pedais wah-wah, batidas quebradas mas não consegue encaixar o timbre do vocal na melodia. Let You Down é grandiosa e Punk, com participação do poeta John Cooper Clark nos vocais. O encerramento se dá com a soturna e hipnótica Human Shield, que parece composta em 1968.

Com planos de turnê de divulgação do novo material, Inspiral Carpets mostra que seu novo álbum é digno de atenção. É Rock bem tocado, esteticamente bacana e com vôos instrumentais que agradarão aos neopsicodélicos em geral. Recomendamos.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: The Doors, James, Johnny Marr
MARCADORES: Alternativo, Indie, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.