Resenhas

Isaiah Rashad – The Sun’s Tirade

Disco comprova o potencial do rapper, mas não cumpre com a expectativa gerada por seu trabalho anterior

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Ano: 2016
Selo: Top Dawg Entertainment
# Faixas: 17
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 63:00
Nota: 3.5
Produção: Dave Free, FrancisGotHeat, Cam O'bi, The Antydote, J.LBS, D. Sanders, Al B Smoov, Ktoven, Deacon Blue, Steve Lacy, Pops, Crooklin, Pluss, Mike WiLL Made It, DZ Onlybeats, D.K. The Punisher, Carter Lang, Chris Calor, Jowin, Free P
SoundCloud: /tracks/285510473

O Hip Hop tem suas idiossincrasias que, ao longo do tempo, e com a atual popularidade de seus artistas, vão influenciando naturalmente o desenvolvimento do estilo. Uma dessas peculiaridades é sua capacidade de funcionar – para alguns – como uma ponte, ou melhor, um trem bala que transporta os artistas de uma cultura marginalizada para o absoluto estrelato. Suas memórias dos tempos de maior dificuldade, sua reação à riqueza conquistada ou os conflitos psicológicos de uma mudança de vida tão brusca costumam ser gatilhos pra muito da temática presente nos melhores e nos piores discos do estilo.

Isaiah Rashad parece ter sido fortemente impactado por isso e seu novo disco, The Sun’s Tirade, é a pedra lapidada por tudo que viveu nos últimos anos. Após assinar com o importante selo Top Dawg Entertainment – de nomes como Kendrick Lamar e ScHoolboy Q – e lançar a elogiada mixtape Cilvia Demo, em 2014, o músico se complicou com vícios em anti-depressivos e bebidas alcoólicas que o atrapalharam na criação deste aguardado novo trabalho e quase comprometeram sua permanência no selo. Tal situação é inclusive retratada na fictícia gravação telefônica que abre o disco, where u at?, na qual ouvimos Dave Free, fundador do selo, cobrando o rapper por novas músicas.

The Sun’s Tirade é um álbum muito didático para discutirmos a eterna “batalha” entre a importância de boas melodias e letras interessantes. Até a décima faixa, o disco é prazeroso como poucos lançamentos de Hip Hop no ano. Melodias que caminham mais para o estilo de produção de caras como Anderson .Paak, com uma pegada mais dançante e influências de outros estilos, como o Funk e o R&B, não deixam a empolgação cair em nenhum momento. 4r Da Squaw e Free Lunch são os destaques claros do disco, unindo um flow interessante do rapper com melodias que seguem sempre uma vibe mais tranquila, menos agressiva e contestadora do que outros companheiros de estilo.

Mas é este um dos pontos em que o disco deixa a desejar. Apesar de alguns lampejos de versos interessantes como “If I can pay my bills, I’m good, I’m comin’ over” – possível reflexão sobre a ausência de vontade de fazer um sucesso estrondoso – e a letra completa de Silkk Da Shocka, com participação de Syd (The Internet) – uma das melhores do disco e de uma sensibilidade e romantismo emocionantes – os versos são fracos e frequentemente não parecem fazer sentido. Sensação confirmada por diversas entrevistas com o músico que assume que em certas músicas que apenas curtiu a vibe da canção e não se preocupou muito com a letra e seu significado.

The Sun’s Tirade sofre também de um problema comum em outros lançamentos de Hip Hop recentes – como VIEWS, de Drake – que é sua longa duração. Da primeira até a décima faixa, apenas Park não se destaca. Todas as outras, tem produção acima da média e são coesas, indo além do arroz com feijão do estilo, mas escolhendo um caminho diferente do que vemos no mainstream. A produção aqui é criativa, contagiante e possui uma sensibilidade Pop que impressiona, é um disco que depois de algumas audições, dá vontade de voltar a ele, ouvir no fone, ouvir alto, salvar algumas músicas em playlists e tratar com carinho. Só que a partir de A Lot, até a 17.a faixa, tudo fica um pouco mais monótono e com cara de ideias inacabadas.

Isaiah Rashad demonstra que tem potencial para estar entre os grandes, mas não dá sinais de que ocupar tal lugar seja uma prioridade. Era esperado que The Sun’s Tirade fosse o disco que o elevasse a este novo patamar ou acabasse de vez com esta ideia. Nem uma coisa nem outra, o disco é acima da média, mas sem a força que Cilvia Demo demonstrava que Rashad poderia ter. Enquanto isso, os fãs tem ótimas novas faixas que ajudarão a rechear ainda mais o ótimo ano que vive o Hip Hop.

(The Sun’s Tirade em uma música: Free Lunch)

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ARTISTA: Isaiah Rashad
MARCADORES: Hip Hop, Ouça, Rap

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.